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Bola dentro: experiência dos preparadores de goleiros compensa falta de estrutura no futsal


Por: Marco Aurélio

O futsal é um esporte muito popular entre os jovens cariocas. Seja por lazer, pela busca de uma vida profissional ou até como um rito de passagem para o futebol de campo, as quadras são exploradas de diversas formas ao redor do Rio de Janeiro. Para aqueles que levam o jogo mais a sério, existe uma grande quantidade de clubes espalhados pelo estado que formam jogadores de salão em suas categorias de base. Dentro disso, uma série de treinadores são responsáveis por conduzir a trajetória destes meninos dentro do esporte, e muitos deles acabam tendo relações de maior proximidade com seus atletas. É o caso do treinador de goleiros. Por ser diretamente responsável por uma gama especifica de atletas, - por mais que tenha contato com o resto da equipe – os preparadores específicos acabam tendo um vínculo diferente com seus subordinados.
O cargo de preparador de goleiros de um clube muitas vezes é ocupado por um ex-jogador. Conhecimento e experiência na posição são fatores que influenciam muito e que acabam impulsionando a qualidade dos exercícios trabalhados nos treinamentos. Na escolha desta carreira, vocação e preocupação com os novos atletas são questões muito recorrentes. Foi isso que levou Lucas Pimenta, preparador de goleiros das categorias do sub-8 ao sub- 13 do Bradesco, a escolher esta profissão. “Como o futsal adulto no Rio não é difundido, comecei a estudar e trabalhar em um clube de bairro e acabei descobrindo que joguei quase toda minha vida para me tornar quem eu sou. Minha inspiração é todo dia buscar dar o melhor para os meus atletas, o que eu não tive na idade deles. É nisso que me inspiro para seguir a carreira”.
Valorização da Profissão
Os profissionais do futsal do Rio de Janeiro enfrentam impasses e dificuldades a todo o momento. Como o esporte profissional é quase inexistente no estado, a valorização dos atuantes da área acaba não sendo compatível com todo o trabalho destinado aos treinadores. E com os responsáveis pela preparação dos arqueiros não é diferente. Muitos clubes sequer possuem uma pessoa especializada para realizar esta função, e quando têm, em diversos casos, as condições de trabalho oferecidas são muito ruins. Desde estruturas, espaço e tempo para exercer seu serviço. Para realizar um treinamento de qualidade nestas condições é preciso estar preparado para lidar com situações adversas e que exigem saídas inteligentes para solucioná-las.
Muito mais que a nível de valores, temos um problema cultural no Brasil. Os goleiros não têm moral e basta uma falha para serem castigados. Isso acaba refletindo na profissão. Trabalhei em lugares que dava treino em sala, embaixo da arquibancada, atrás do gol. Nunca fujo de trabalho. Mas acredito que essas não são as condições ideais”, disse Lucas Pimenta sobre o valor dado a sua profissão.
Além disso, a falta de prestígio do campo da preparação específica no futsal é uma das principais causas deste cenário, como afirma o treinador de goleiros Marcello Galli Purific, hoje preparador da equipe profissional do Corinthians e uma referência no campo. “A maior dificuldade que eu vejo na profissão é que ela ainda não teve o devido reconhecimento como a preparação de goleiros no campo, que já tem um destaque maior. Acho que a preparação de goleiros tem que chegar no nível que chegou a preparação física, sair um pouco do empirismo. Para isso, acho que nós, preparadores, que estamos na profissão há mais tempo, temos por obrigação organizar e melhorar a qualidade dos profissionais que estão vindo aí”, completa.

                         Marcelo Galli em quadra aquecendo goleiros do Corinthians
Entretanto, a falta de valorização não reflete no nível dos goleiros cariocas. O Rio de Janeiro conta com excelentes treinadores e atletas, e com isso a profissão resiste em um ambiente desfavorável. E ainda assim – mesmo que de forma gradual – a evolução das técnicas e dos treinamentos vem evoluindo com o tempo.
Relacionamento e influência sobre os atletas
Trabalhar na formação de atletas significa também lidar com jovens em desenvolvimento. Com isso, é necessário entender que o esporte tem papel fundamental neste processo de aprendizagem, e que a responsabilidade daqueles que convivem com estes garotos no dia-a-dia dos clubes ultrapassa as quatro linhas da quadra. Segundo uma pesquisa feita pelo Serviço Social da Industria(SESI), a prática de atividades esportivas não se restringe apenas a melhorar a saúde. Este hábito também é importante para garantir avanços sociais e econômicos ao país. Portanto, além de ter funções de auxiliar na conduta social e na disciplina das novas gerações, o esporte serve como apoio para jovens moradores de regiões marginalizadas. Logo, cabe aos treinadores se utilizarem desta rotina como uma ferramenta de integração social de seus atletas.
Sensação única de participar de um momento chave da formação desses meninos e uma responsabilidade enorme porque qualquer coisa que seja passada de forma errônea acarretará em problemas futuros. O futsal potencializa a socialização, trabalha aspectos importantíssimos para o convívio social e para o desenvolvimento de um ser humano íntegro. Quanto à influência, um professor nunca sabe onde cessa sua influência. O que foi passado hoje pode ser levado até a eternidade, mas pode acabar hoje também”, acrescenta o profissional do Bradesco

                                       Lucas Pimenta com seus atletas da Bradesco
Futsal e preparação de goleiros ao redor do planeta
Quem acha que mundo afora o futsal se encontra em níveis de organização muito discrepantes está enganado. Apesar de ser inegavelmente melhor estruturado em muitos países onde o esporte também é praticado, a valorização atribuída ao futebol salão fora do Brasil não é muito superior ao que encontramos por aqui. “Posso dizer com propriedade, porque já trabalhei em três países diferentes com futsal: é um esporte amador, buscando seu espaço, apesar de muitos acharem profissional. O espetáculo em si tem muita qualidade e é de um altíssimo nível, mas nos bastidores a gente ainda peca. A organização do nosso esporte ainda deixa muito a desejar”, disse Marcelo Galli Purific sobre o tema.
A preparação de goleiros também faz presença em terras estrangeiras. Entretanto, por se tratar de culturas sociais e esportivas distintas, é normal que as filosofias e as práticas utilizadas sigam uma linha diferente da brasileira. Lucas Pimenta compara as técnicas usadas aqui com as da Europa. “Temos na escola brasileira a predominância do tecnicismo e existe uma corrente conservadora muito forte de profissionais renomados, tanto aqui no Rio de Janeiro, quanto no Brasil, sobre esse modelo de treinamento. Na escola europeia, a predominância é da resolução de problemas. Não acredito em verdade absoluta, até porque as duas buscam o mesmo objetivo: a bola não entrar no gol. Mas creio e busco equilibrar as duas vertentes no meu modelo de treinamento”.

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