Por: Suzana Carqueija
A Universidade Federal Fluminense (UFF), criada em 1960, tem
hoje como um dos principais campi em Niterói, o Gragoatá. Composto por 12
blocos, identificados por letras, 2 restaurantes universitários, biblioteca,
quadra, campo de futebol, creche universitária e moradia estudantil. Lá encontramos, por exemplo, o Instituto Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), no bloco P e a Faculdade de
Economia, no bloco F.
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CAMPUS GRAGOATÁ -UFF NITERÓI Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=wlAm4anLH1c |
A Biblioteca Central do Gragoatá e os bandejões, por
exemplo, são direitos dos alunos, mas em relação aos outros campi,
acabam sendo um destaque. Mesmo com os pontos positivos, além de uma orla com
vista da cidade do Rio de Janeiro, os alunos do Campus Gragoatá enfrentam
problemas diariamente. São eles relacionados a estrutura dos prédios, a acessibilidade, a iluminação, entre outros.
Esses problemas não afetam apenas a UFF, mas as universidades públicas do Brasil em geral, devido ao descaso do governo em relação a educação no país. De acordo com o G1, 90% das universidades federais tiveram perda real no orçamento em cinco anos, com queda da verba nacional em 28%. Além disso, em 2017, de acordo com o Estadão, o governo reduziu a autonomia das faculdades para gastos com obras. Essa situação não reflete apenas no ensino dos alunos, mas na qualidade de vida de todos que frequentam o ambiente universitário.
Felipe Gomes, aluno do curso de Matemática e
vice-presidente do Diretório Acadêmico de Matemática e Estatística, conta em
entrevista sobre os problemas estruturais dos blocos G e H, onde tem aula. As
marquises dos prédios foram malfeitas e, por isso, quando chove, a água entra
nelas, fragilizando ainda mais a sua estrutura e aumentando o risco de
desabamento. Felipe afirma que algumas partes das marquises já caíram, o que é
muito grave, pois qualquer pessoa que frequenta o local fica vulnerável a
sofrer um acidente. O máximo que os alunos podem fazer é analisar a situação
das marquises e alertar os outros. “O pessoal vê, avisa para alguém do Diretório
Acadêmico e a gente repassa para os administradores do prédio. Eles fazem uma
faixa, botam em volta da região e no outro dia, quebram a marquise de manhã
cedo, antes dos alunos chegarem”, ele relata. Esse problema em relação às marquises deve ter atenção em
todos os blocos do Gragoatá. Mesmo que não seja em relação a má construção e a
entrada de água da chuva, pode ser pela construção antiga, com vigas a mostra e a estrutura visivelmente danificada, como no bloco B.
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BLOCO H Foto: Suzana Carqueija |
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BLOCO B Foto: Suzana Carqueija |
Em conversa, o Diretório Acadêmico Raimundo Soares, do curso
de Ciências Sociais, fala sobre os problemas do bloco P. Mesmo recém
construído, em 2014, algumas questões foram mal projetadas, como os canos dos
banheiros, que acumulam urina, causando mal cheiro, e as janelas, que são frágeis. “As
janelas são um problema grave, que já ocasionou acidente, já que elas não
seguram o vento que rola no Gragoatá, batendo com tanta força e quebrando em
cima de aluno, como ocorreu, no caso. Então, todas permanecem fechadas, com
freios impedindo que a janela seja totalmente aberta”, afirma.
O que também tem risco de não aguentar o vento são as
paredes. Principalmente as divisões de sala improvisadas, são muito finas e frágeis. Além do barulho de uma sala atrapalhar a outra, algumas salas possuem
até um alerta para não abrir as janelas, pois as paredes podem não
suportar a força do vento. E se cai uma parede em cima dos alunos, causa um grave
acidente, o que coloca, mais uma vez, quem frequenta os ambientes da UFF em risco.
Recentemente, aconteceu no Campus Praia Vermelha, no 4º andar do bloco H.
Felizmente não atingiu nenhum aluno, mas uma turma do curso de Engenharia
estava tendo aula na sala no momento da queda da parede.
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SALA 401 A - BLOCO A Foto: Suzana Carqueija |
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SALA 402 - BLOCO H - CAMPUS PRAIA VERMELHA Foto: Bruno Chiara |
Outros problemas que afetam o dia a dia dos alunos são em
relação aos banheiros e elevadores dos blocos. Nos banheiros, os problemas vão
do mais básico, como falta de papel higiênico e portas quebradas, aos mais
complexos, como vazamentos de água, que podem acabar danificando a estruturas
dos prédios, com infiltrações. Sobre os elevadores, a reclamação é geral. Todos
os blocos possuem elevadores, mas nunca todos estão
funcionando. O problema maior, entretanto, é a qualidade do funcionamento dos
que estão em uso. Jamille Almeida, aluna de Sociologia, já ficou presa em elevadores do bloco O e P, o que é até considerado "comum" entre quem costuma usar os elevadores do campus.
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BANHEIRO FEMININO - BLOCO C - 2º ANDAR Foto: Suzana Carqueija |
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ELEVADOR 3 - BLOCO B Foto: Suzana Carqueija |
Os problemas nos elevadores também abrangem outra questão: a acessibilidade. O Campus Gragoatá é um grande problema em relação a isso. Sem elevador, alunos cadeirantes ou com dificuldade de locomoção, dependem de outras pessoas para assistir às aulas. Esse caso marca a exclusão e a falta de atenção aos deficientes. Os caminhos do Campus, entre os blocos ou no estacionamento, também representam problemas de acessibilidade. Pedras, rampas e calçadas quebradas e paralelepípedos comprovam que não é fácil se locomover. O novo reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas Nóbrega, que assume o cargo em novembro, é cadeirante. Ele é o primeiro reitor tetraplégico de uma universidade federal brasileira. Em entrevista à Folha de São Paulo, ele afirma que dará prioridade à inclusão e espera impactar a vida das pessoas de forma positiva. Acesse a matéria da Folha em: https://www1.folha.uol.com.br/c/tetraplegico-eleito-reitor-na-uff
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RAMPA Foto: Facebook |
A iluminação do campus também é um problema. As aulas vão até às 22 horas e iluminação ruim torna o ambiente desagradável. A aluna Natalia Chaves, de Psicologia, assim como muitas outras alunas, acha perigoso andar pelo Gragoatá durante a noite. Ela e a maioria das meninas costumam andar em grupo, com medo de perseguições e tentativas de estupro. A segurança deveria ser prioridade, mas a falta de iluminação é um risco para todos os alunos, já que qualquer pessoa pode entrar no campus.
A aluna L.V., de Medicina Veterinária, é moradora da Moradia Estudantil do Gragoatá. "Sobre a segurança: em relação ao campus, acho muito "fraca" e ineficiente porque já soube de casos em que pessoas (homens) entraram no campus e seguiram meninas. E vejo essa ineficiência também quando a gente entra no campus de carro. Os guardas mal olham a cara da pessoa e a foto da carteirinha, nem pedem identidade nem nada", conta a estudante.
Em junho, o GT de mulheres do DCE UFF fez uma petição à reitoria exigindo a melhor iluminação dos campus. No link da petição, dizia: "Garantir o funcionamento dos postes de luz em todos os Campus da UFF Niterói, assegurando um espaço seguro de locomoção para todas as estudantes, terceirizadas e professoras". O número mínimo de assinaturas ainda não foi atingido. Caso tenha interesse em ajudar, acesse: https://secure.avaaz.org/po/petition/Reitoria_Mulheres
Entramos em contato com a Divisão de Assessoria de Imprensa (DAI) da UFF, por e-mail, para um esclarecimento a respeito dos problemas apresentados. Pois, além dos relatos e opiniões dos alunos, é importante ouvir a posição da reitoria. Até o fechamento da reportagem, entretanto, não tivemos resposta.
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