Com um número crescente de vagas para intercambistas a UFF pode ser tanto um lugar acolhedor como um quebra cabeça para os estudantes estrangeiros.
Ter a oportunidade de estudar fora do seu país, enriquecer seu currículo e entrar em contato com uma nova cultura é o sonho de muitos estudantes universitários ao redor do mundo. O número de estudantes que decidiram expandir as escolhas além dos destinos mais procurados como Estados Unidos e Canadá aumentou exponencialmente desde 2015 e de acordo com o Governo Federal o Brasil entrou de vez na rota dos estrangeiros.
O fator econômico é o principal ponto positivo não só para os estudantes como para o governo, que tem extremo interesse na ampliação do programa de internacionalização. Apesar dos esforços do MEC, o número de estrangeiros em instituições federais do país representa menos de 1% da quantidade total de alunos nas universidades. É o que aponta levantamento feito pelo Estado, sendo a USP a que mais consegue trazer estudantes, 3,4% do número total de alunos em 2016.
Antecipando a tendência, desde 2006 a UFF, através da Superintendência de Relações Internacionais (SRI), oferece um número cada vez maior de vagas de intercâmbio para estrangeiros estudarem por um período de seis meses a um ano na universidade.
Segundo informações da Superintendência, ao todo a UFF vem recebendo aproximadamente 150 estudantes, entre graduação, pós-graduação, doutorado e mestrado. Todos os estudantes precisam provar proficiência na língua e cumprir uma série de procedimentos de inscrição e documentação, como ter um seguro saúde, portar o visto adequado e ainda realizar uma visita à polícia federal para retirar a Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM), explica o superintendente.
Além de estudar em outro país e aprofundar os conhecimentos em um outro idioma, os estudantes são inseridos em uma nova comunidade acadêmica e têm que enfrentar o desafio que é conviver com outras culturas e costumes. Yeonju Lee Cha, ou Jay, para seus amigos, é a primeira estudante vinda da Coreia do Sul na UFF em dez anos. Morando em Niterói há oito meses e se dividindo entre aulas dos cursos de Comunicação, Estudos de Mdia, Pedagogia e Turismo, ela conta que uma de suas maiores dificuldades ao chegar na UFF foi a burocracia:
“Eu percebi que tem muita burocracia e foi difícil resolver sozinha. (...) Demorou quase um mês para eu me inscrever nas matérias, porque eu tinha que ir em várias coordenações para receber assinaturas e carimbos. Isso é muito diferente da Coréia, porque lá a gente faz tudo pela internet. Foi difícil, mas eu sempre pedia ajuda para as pessoas e todo muito era muito atencioso. Eu me senti bem recebida e aprendi a conviver com as pessoas aqui e com o jeito delas também”.
O apoio que os estudantes brasileiros dão aos intercambistas é muito importante para que os alunos de outros países consigam se adaptar bem assim que chegam no Brasil. Há um esforço da Superintendência para garantir a adaptação e bom recebimento dos estrangeiros, como o Programa de Apadrinhamento ao Intercambista (PAI). Ele consiste na inscrição de alunos da UFF para “adotarem” um colega vindo de outro país. Segundo a SRI “eles são responsáveis por assistir o aluno estrangeiro na sua chegada ao Brasil, auxiliando-o no que for necessário. Ao fim do período de apadrinhamento, há uma entrega de relatório final e são concedidos certificados de participação àqueles que cumpriram com suas obrigações”. Além disso, é fácil notar o interesse dos brasileiros em ajudar e criar laços de amizade.
Como a oportunidade de uma experiência fora do País para o brasileiro médio diminuiu muito devido à recessão e ao fim de programas como o Ciências Sem Fronteiras em 2016, a troca de experiências com os estrangeiros é uma forma de trazer o ambiente internacional para a própria casa.
“Você passa um pouco de você e eles passam um pouco deles e isso é muito legal. Sem contar que é uma chance de você aprender um pouco da língua. Muitas pessoas não têm condições ou não fizeram um curso e ali na hora conversando você aprende um pouco”, Conta Yanca Rosa, aluna do curso de Arquivologia, que já participou do PAI e se disponibiliza para ajudar o estrangeiros sempre que precisam e manter contato com os novos amigos.
Ela diz que os “padrinhos” e “madrinhas” têm a preocupação de “proporcionar a eles (estrangeiros) a melhor estadia aqui, tentar fazer com que eles só tenham boas lembranças do Brasil quando voltarem e que eles possam contar coisas positivas da gente”.
Nem tudo são flores
Decidida a vir para o Brasil por ter feito curso de português e amar a cultura, as belezas tropicais e as praias, segundo ela bem diferentes das da Coreia, Jay conta que a escolha pela UFF foi bastante pensada, devido à violência no estado do Rio de Janeiro.
“Eu estava muito preocupada em morar no Rio de Janeiro porque todos os meus colegas que vieram ao Brasil estudar foram para o Sul e para São Paulo. Pelas notícias que são mostradas na Coréia, parece muito grave e muito perigoso morar aqui. Meus pais e amigos ficaram preocupados. Quando eu cheguei, estava com medo, mas eu tentei achar um bairro mais seguro para morar e me preparei bem. É perigoso, mas não significa que não dá para viver, pois tem muita coisa boa também”.
Embora os índices de violência sejam altos, o mais surpreendente, segundo Jay, foram situações de racismo sofridas por ela, até mesmo no ambiente da faculdade, como quando foi abordada de maneira rude por dois homens no bandejão.
“Aconteceram muitos casos desses, só que esse foi na UFF, no bandejão, foi muito absurdo, porque eles perguntaram se eu gostava de ser coreana, se meu nome era estranho… Foi muita falta de respeito. Fora da faculdade acontece muito. Eles podiam perguntar de onde eu sou, porque para outros estrangeiros eles perguntam de onde eles são, mas aqui, os brasileiros só me perguntam se eu sou chinesa ou japonesa. Sempre fazem sinal de olho puxado para mim, o que é muito absurdo. A expressão olho puxado é usada pelas pessoas aqui porque eles querem diferenciar a gente deles. Isso me incomoda muito porque as pessoas não sabem que isso é racismo”.
“Cada um vai se moldando um pouquinho ao outro para conseguir conviver bem...”
Fazendo um balanço Jay considera sua estadia no Brasil muito boa. Além de feliz com as amizades que fez aqui e com a hospitalidade das pessoas que conheceu na UFF, ela também amou as outras cidades que conheceu e a culinária regional. Principalmente os pratos apimentados, como ela está acostumada na Coreia.
“Eu quero muito conhecer o Nordeste, porque eu ouvi dizer que a comida lá é muito boa! Eu quero muito ir para Salvador porque gosto de cidade histórica. Eu gostei muito de Foz do Iguaçu e Arraial pelas paisagens lindas. A Coreia é um país pequeno e lá a natureza também é linda, mas não tem essas praias lindas do Brasil”, diz Jay.
A experiência é gratificante para todos. Ao voltar ao seu país de origem, os estrangeiros podem alavancar suas carreiras profissionais, já que conviveram com as particularidades de um outro povo, assim como os estudantes brasileiros. Os alunos amadurecem mais quando expostos à diversidade cultural. “É lógico que tem uma diferença muito grande de cultura, mas é uma troca. Cada um vai se moldando um pouquinho ao outro para conseguir se comunicar e conviver bem” Afirma Yanca.
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