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O Ano das Fake News

Em 2018 brasileiros compartilharam mais de 4 milhões de notícias mentirosas nas redes sociais   
Por Dandarah Filgueira

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, discursa para apoiadores em NY (Foto: Mike Segar/Reuters)
Foto: Mike Segar/Reuters 

Em ano de eleições no Brasil, há uma forte relação entre a divulgação de notícias e informações na Internet e o cenário político do país. A relação entre esses dois elementos é dialética e resulta no comportamento que gera e é gerado pela disseminação da polarização política tão visível nos posicionamentos nas redes sociais nesse período. A Internet é um espaço onde o embate político e ideológico fica muito visível.  
No primeiro trimestre de 2018 o Facebook chegou a 127 milhões de usuários mensais no Brasil, de acordo com a empresa, o país é um dos cinco maiores mercados da companhia. No contexto da América Latina, segundo pesquisa da agência eMarketer, o Brasil é o país com mais usuários de redes sociais.  
Dentre as diversas possibilidades de utilizaçãodesde o compartilhamento de conteúdo como fotos ou vídeos até troca de mensagens com outros usuários, a distribuição e o consumo de informações e notícias através das redes sociais também faz parte da rotina dos usuários do Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp e etc. 
Para os brasileiros que tanto utilizam as redes sociais, essa realidade não poderia ser diferente. Segundo uma pesquisa do IBOPE de abril de 2014, para 47% dos brasileiros a Internet é a primeira fonte de informações, uma média maior que a média mundial, que esse percentual registra 45%. Em 2015, uma pesquisa realizada pela Wordwild Independent Network of Market Research (WIN) mostrou que o Brasil é o país da América mais politicamente ativo na web. 
Uma pesquisa sobre como as pessoas estão utilizando as redes sociais para se informar a respeito das eleições de 2018 foi feita para esta reportagem. A pesquisa foi respondida por 50 pessoas de diferentes idades e lugares, e demonstrou que a maioria utiliza as redes sociais para se informar e consome o conteúdo sobre política compartilhado online, mesmo algumas que não seguem nenhum perfil de candidato aos cargos públicos. Quando questionadas sobre algum perfil específico nas redes sociais que utilizam para se informar, a maioria citou perfis de portais de notícias como G1, El País, Revista Fórum, Portal Terra, no entanto ainda assim quase todos (92%) afirmaram já ter recebido notícias falsas sobre política em 2018.
Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Você segue candidatos a cargos políticos nas redes sociais?. Número de respostas: 50 respostas.
Fonte: elaborado pela autora.



Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Você costuma consumir o conteúdo sobre política que aparece nas suas redes sociais? (notícias, notas, vídeos, mensagens de candidatos, etc). Número de respostas: 50 respostas.
Fonte: elaborado pela autora.

Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Já leu ou recebeu via redes sociais alguma informação falsa relacionada à política em 2018?. Número de respostas: 50 respostas.
Fonte: elaborado pela autora.
 Nesse cenário de intensa utilização de redes sociais e o crescimento da polarização política no país mais acentuada por causa do ano de eleições, o que acontece é uma verdadeira guerra de informações por causa do grande compartilhamento de notícias falsas, as fake news. O laboratório de cibersegurança da PSafe apontou que no Brasil houveram 4,4 milhões de casos de fake news no segundo trimestre de 2018. Um país com muitos usuários de redes sociais, polarizados e ativos politicamente, de fato se torna um espaço facilitador da propagação de notícias falsas e apesar da divulgação acontecer em ambiente virtual, as consequências são enfrentadas no mundo real.  
As fake news não são um fenômeno exclusivamente brasileiro, a divulgação de boatos na internet acontece no mundo inteiro, e um dos casos recentes mais notáveis foi a eleição de Donald Trump nos EUA em novembro de 2016. Paul Horner, quando vivo era o principal autor de fake news no Facebook e em sites de boatos, faturava US$10.000 por mês, já conseguiu até que a Fox News divulgasse suas notícias falsas, e se considerava peça-chave na eleição de Trump. “Ninguém checa os fatos ultimamente, e foi assim que Trump foi eleito”, disse  Horner ao jornal Washington Post. 
No Brasil, a legislação em relação às fake news é pouco delimitada, e apesar de existirem formas de punir quem divulga mentiras na internet, a lei deixa algumas brechas. O Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) promulgado pela presidenta Dilma Rousseff em 2014, é a lei vigente sobre o uso da Internet no Brasil, e diz no artigo 19 que “Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário”. 
No dia 24 de julho de 2018 o Facebook retirou do ar uma rede composta por 196 páginas e 87 perfis no Brasil, ligadas ao Movimento Brasil Livre (MBL), em nota a empresa informou que as páginas perpetuavam e propagavam conteúdo enganoso, o que é contra as políticas de autenticidade do Facebook. 
Nesse cenário se torna importante o papel das agências de fact-checking, como é o caso da Agência Lupa, a primeira agência dessa linha no Brasil. Na Lupa, os jornalistas analisam uma afirmação, publicação ou divulgação de uma informação qualquer e classificam alguma dessas categorias:
 Falso – a informação está comprovadamente incorreta;
 Contraditório - a informação contradiz outra difundida pela mesma fonte antes;
Verdadeiro – a informação está comprovadamente correta;
Ainda é cedo para dizer - a informação pode vir a ser verdadeira. Ainda não é;
Exagerado - a informação está no caminho correto, mas houve exagero de mais de 10% e menos de 100% frente ao total real;
Subestimado – os dados reais são ainda mais graves dos que os mencionados. A informação foi minimizada de 10% a 100%;
Insustentável - não há dados públicos que comprovem a informação;
Verdadeiro, mas – a informação está correta, mas o leitor merece um detalhamento;
De olho – etiqueta de monitoramento. 

Além da Agência Lupa, outras páginas se dedicam a este tipo de trabalho também. Como o Grupo Globo que lançou o serviço de checagem de informações chamado Fato ou Fakeonde a apuração das informações é feita em conjunto por jornalistas do G1, O Globo, CBN, Época, entre outros. 


Fonte: Print Screen do portal G1.

Fonte: Print Screen do portal G1.


Fonte: Print Screen do portal G1.
Na pesquisa feita para esta reportagem, 36,4% das pessoas disseram não ter o costume de checar as informações que recebem pelas redes sociais. Em entrevista ao jornal O Globo, Daniela Oliveira, professora de Jornalismo Digital na Universidade Veiga de Almeida (UVA), afirma que todos devemos nos responsabilizar pelo conteúdo compartilhado na Internet. “É necessário estar de olho na origem da notícia. É uma fonte idônea? Qual o endereço dela? Uma dica importante é compartilhar aquilo que se leu. Uma pesquisa americana mostra que quase 60% das pessoas compartilham notícias sem ler o conteúdo por inteiro. É válido sempre desconfiar de notícias alarmantes, especialmente se vierem de veículos desconhecidos. Até mesmo a data é motivo de atenção: o fato pode ter ocorrido, mas ser antigo. Uma notícia fora de contexto é prejudicial ao leitor e à sociedade. Todos devemos ter responsabilidade ao compartilhar um conteúdo”, disse.

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