Por Juliana Oliveira e Roberta Ruchiga
"As Boas Maneiras" de Juliana Rojas e Marco Dutra
Apesar dos
diversos meios de acesso à cultura, segundo o estudo feito pela Tendências
Consultoria através da Motion Picture Association (MPA), quase metade da
população, 46%, ou seja, 93 milhões de pessoas, não têm acesso a cinemas. Ainda
que o percentual seja alto, o mesmo estudo mostra que, de 2013 a 2015, as salas
de cinema cresceram de 2679 para 3005 e que o número de ingressos vendidos nos
cinemas também aumentou.
Os festivais de
cinema brasileiro servem de plataforma para o crescimento e a consolidação de
novas produções audiovisuais do país. No Brasil, o mais antigo e tradicional é
o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que já está em sua 51ª edição.
Sediado no Cine Brasília, o evento anual foi instaurado pelo professor de
cinema da Universidade de Brasília, Paulo Emílio Sales Gomes em 1965, e é
promovido pelo governo do Distrito Federal.
O Festival do
Rio é uma junção de dois antigos eventos da cidade, Mostra Banco Nacional e o
Rio Cine Festival, e desde 1999 exibe longas e curtas, principalmente
brasileiros, em diversas salas dos cinemas cariocas. Sem o apoio da Prefeitura
do RJ há dois anos, em 2018, o festival adiou sua estreia em um mês por falta
de patrocínio. Grandes nomes do mundo cinematográfico já passaram pelo FDR
apresentando seus filmes, como Roman Polanski, diretor de "O
Pianista", em 2002; Dario Argento, para a mostra "Dario e seu mundo
de horror", em 2011; E atores e atrizes como Samuel L. Jackson, Kylie
Minogue, Jane Birkin, Danny Glover e muitos outros.
No Rio Grande
do Sul, o Festival de Cinema de Gramado marca presença desde 1973. Um dos
maiores do país, premia seus ganhadores com o famoso troféu "kikito".
O evento possui sessões de reprises gratuitas para o público e já recebeu nomes
como Camila Morgado, Tony Ramos, Alinne Moraes, o francês Etienne Chicote,
entre outros. O Festival de Gramado tornou a Serra Gaúcha palco de grandes
debates e encontros de artistas do cinema.
Outra
iniciativa que colabora com a expansão do cinema nacional é realizada pela rede
de cinemas Cinemark. O evento “Projeta Brasil”, que já teve 19 edições, exibe
filmes nacionais em salas de todo o país. Os ingressos custam apenas R$4,00. O
objetivo da rede é incentivar o cinema brasileiro aproximando o público das
principais obras nacionais e fomentar recursos para apoiar premiações, projetos
educativos e de acervo.
O aumento de
produções brasileiras em festivais internacionais é um grande benefício para o
cinema daqui e, para incentivar ainda mais esse crescimento, o programa da
ANCINE - Agência Nacional do Cinema “Programa de Apoio à Participação
Brasileira em Festivais, Laboratórios e Workshops Internacionais” ajuda com
cópias, financeiro e legendas, filmes e projetos audiovisuais que foram
oficialmente convidados para participar dos festivais ou laboratórios
internacionais, mas não possuem a verba total. Em 2017, o programa levou 25
obras para 11 festivais, entre eles Festin (Portugal), New Directors/New Films
(Nova Iorque), FICG (Guadalajara) e muitos outros. A inscrição pode ser feita
no site oficial da ANCINE.
A presença do
Brasil em festivais internacionais
Nos últimos
anos, tornou-se comum o reconhecimento de produções nacionais em grandes
festivais mundiais. Em 2017, o filme de horror “As Boas Maneiras” de Juliana
Rojas e Marco Dutra ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional
de Cinema de Locarno, evento anual que acontece na Suíça. O longa foi uma
surpresa agradável para os amantes do cinema, conquistando com sua história
envolvente e inovadora críticas positivas de jornais, como o The New York Times
e a revista estadunidense Variety.
Já em 2018, o
cinema brasileiro concorreu no Festival de Berlim em diferentes categorias. O
evento premiou cinco das 12 produções indicadas, com seis prêmios distribuídos
entre eles. Os filmes “Tinta Bruta”, “Aeroporto Central”, “O Processo”, "Bixa
Travesty” e “Ex-Pajé” desenvolvem enredos controversos sobre a realidade
brasileira, como a sexualidade e o impeachment de Dilma Rousseff.
A seção
independente “Quinzena dos Realizadores” do Festival de Cannes, teve em sua
edição de 2018 dois representantes brasileiros de peso. O longa “Los Silencios”
e o curta “O Órfão” não levaram o prêmio, porém deixaram a marca do Brasil pela
34ª vez no evento internacional.
Cada vez mais o
cinema nacional vem estabelecendo a expressiva relevância das produções
brasileiras e deixando sua marca ao redor do mundo.
O cinema da
Retomada
Desde
o seu surgimento, em 1897, o cinema brasileiro passou por ascensões e momentos
de crise. Durante a década de 60 e 70 a cultura do país viveu anos sem
liberdade. Pouco tempo após, na década de 80 enquanto o Brasil se
redemocratizava pós ditadura, a crise econômica atingiu fortemente o mercado
audiovisual, que se reergueu somente em meados dos anos 90.
A Retomada veio
graças à leis de incentivo à cultura, como a Lei do Audiovisual - de 1993 - que
além de conduzir o crescimento na produção cinematográfica, gerou mais
liberdade criativa dos cineastas e acabamento técnico superior ao que a
população estava acostumada.
Segundo a ANCINE,
nos últimos quatro anos da década de 90 e começo do século XXI o crescimento
foi de quase 300%. Em 1995, quando a indústria cinematográfica começou a se
reerguer, sete filmes nacionais foram lançados, contra 31 em 2000.
Desde então, os
números só aumentaram. Os blockbusters brasileiros começaram a fazer sucesso,
longas como “O Auto da Compadecida” de Guel Arraes e “Os Normais” de José
Alvarenga Júnior tiveram grande êxito comercial como exemplos clássicos da
comédia brasileira.
Um marco da
mesma época é o aclamado longa de Fernando Meirelles, “Cidade de Deus”, lançado
em 2002. O filme foi um sucesso tanto no Brasil quanto internacionalmente,
sendo indicado a quatro categorias da importante premiação norte-americana
Oscar. Jornais como o The Guardian e a revista The Atlantic aplaudiram a
produção de Fernando Meirelles em suas críticas positivas.
Do início do
século XXI aos dias atuais, o cinema brasileiro cresceu aceleradamente,
concorrendo cada vez mais em premiações internacionais importantes. Além do empenho
em desenvolver gêneros que eram pouco explorados, como o terror e a ficção
científica.
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