Os novos “Niteroienses”
Percepções financeiras e psicológicas de quem alterou seu endereço para Niterói pela vida acadêmica.
Segundo o ranking do site TNH1, que reuniu informações do site nacional do Custo de Vida do país, e do site internacional Numbeo, feito em março de 2017, Niterói é a 4º cidade mais cara de se viver no país. Dentre esses altos custos, está incluído o aluguel que varia entre R$ 1.200 e R$ 2.080. O mercado imobiliário na cidade é altamente movimentado pelos universitários que vêm de outras localidades e buscam uma proximidade ao seu local de estudos diários. Segundo a Superintendência de Tecnologia da Informação da Universidade Federal Fluminense, em 2015, mais de 500 alunos que ingressaram na instituição vieram de outros estados, dentre o total de 5530 calouros do sistema presencial e 2031 do ensino à distância.
Um jovem é aprovado na Universidade Federal, se muda para uma nova cidade, assume responsabilidades, faz novos amigos, se desprende da influência dos pais, amadurece e passa a descobrir um novo mundo e sua personalidade em um local totalmente diferente. Essa é a história de Pedro Maçano, estudante de publicidade de 20 anos, que veio de Guarulhos, no Estado de São Paulo, para a cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, em busca da formação acadêmica na Universidade Federal Fluminense. Essa também é a realidade de muitos estudantes que todos os anos arriscam experimentar a vivência em outros lugares.
A UFF é uma das faculdades que impulsiona essa mudança na vida de jovens universitários e os atraem a sua cidade sede, Niterói. Os estudantes mudam de cidade, estado e até mesmo de país para ser possível frequentar a universidade. A instituição oferece vagas na sua moradia estudantil, porém essa opção é de muito difícil e demorado acesso, o que submete os distantes a alugarem imóveis na cidade, e por conta própria, pois as bolsas propostas pela universidade também são escassas.
Esses alunos se queixam do alto custo de vida em Niterói. Todos os entrevistados admitem ter enormes gastos morando no município e tentam dividir os custos com as pessoas das repúblicas e moradias. Os entrevistados relatam gastar uma faixa de 600 até 800 reais por mês, contando já com o aluguel. As formas de sustento acabam sendo, principalmente, o financiamento dos pais. Os gastos são com alimentação, aluguel, contas e consumo do dia a dia.
Apesar das despesas atuais que superam as das cidades de onde vieram, os estudantes afirmam que o custo/benefício é válido pela comodidade dos locais bem próximos à faculdade. Esse é o pensamento de Trevor Georges, estudante de arquitetura, de 25 anos, que veio de Gana, na África, e já morou em locais como Londres. “É alto (o custo de vida da cidade). Daria nota 8”. Ele também confessa que ainda não pode concluir se já está totalmente adaptado ao custo de vida daqui, mas está tentando.
Formas de se bancar
O sustento numa cidade nova de custo elevado pode vir de diversas fontes de renda alternativas, como, por exemplo, para a estudante de jornalismo Carolinne Cabral, de 19 anos, que vende brownies para ajudar nas contas. A aluna vende pelo valor de 2 a 4 reais, dependendo do tipo de brownie. Ela distribui brownies no campus onde tem aula, e aceita, inclusive, pedidos por Whatsapp. “Meus pais me ajudam pagando meu aluguel e eu vendo brownies na faculdade para pagar as contas e o que mais precisar”. Carolinne diz ganhar em torno de 200 reais com os brownies.
Já Pedro Maçano confessa que tenta economizar ao máximo e dividir o possível das contas da casa. “Procuro sempre me controlar com meu dinheiro, não gastar muito em besteira, sempre aproveitar as promoções e não ficar comprando muita regalia na hora das compras de casa, divido as coisas com os moleques que moram comigo.”
Distanciamento da família
Outro empecilho à mudança é o distanciamento repentino da família, amigos e rotina. Esse, além de causar mudanças financeiras e no ciclo social do aluno, é de grande impacto para o psicológico desse estudante, que se encontra em uma situação de solidão e sentimento de desamparo por estar em um novo ambiente, longe do seu ciclo social e sua rotina entre família e amigos. Alguns estudantes relatam que suas primeiras semanas na nova casa foram de intenso estresse e ansiedade, pois se sentiam extremamente tristes e sozinhos, sem ter a quem recorrer. Carolinne revela que ficou os primeiros dias sem comer, pois sentia falta de casa. Ela veio de Seropédica, onde estudava na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mas seu bairro natal é Marechal Hermes, no Rio de Janeiro.
O estudante Trevor afirma que a saudade da família existe, mas é necessário seguir em frente. Ele declara que já faz dois anos que não visita a família em Gana, e um dos motivos é o custo da passagem aérea.
Pedro Maçano também sentiu o choque ao morar longe dos pais, porém hoje já se acostumou e volta sempre que possível para seu estado de origem. “No começo, só pensava em voltar para Guarulhos e era muito ruim ficar sozinho e distante de todo mundo que você conhece, mas depois de um tempo, eu fui conhecendo as pessoas, acostumei com a rotina. Agora, apesar de sempre estar com aquela saudade, eu estou mais tranquilo de morar aí, ainda mais que eu sempre volto para Guarulhos nas oportunidades que tenho”. O estudante busca ir a cada dois meses para sua cidade natal.
A psicóloga Sandra Torres afirma que o afastamento da família pode ser, muitas vezes, mais saudável. O fato de morar longe de casa gera mais liberdade para o jovem, porém ele estar preparado ou não para isso é outra questão. “É caminhar com as próprias pernas”. Ela afirma que há dificuldades de adaptação, de morar com alguém que não se conhece ser uma situação difícil, mas tudo é adaptável, especialmente, em busca de uma profissão. “O mais impactante, eu acho que é o caminhar sozinho, é cada jovem se surpreender e se deparar com a chance de crescer com tudo isso. Nós crescemos no sacrifício, na busca de conquistas. Cada conquista é um avanço, um investimento”.
Todos os personagens contam que as redes sociais são essenciais para manter o contato com os pais e os amigos, para manter o antigo laço, sem romper a nova caminhada.
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