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Parados no sinal

Trânsito tira a tranquilidade da Cidade Sorriso




Por Anna Luiza Amorim, Breno Behnken e Lara Barsi



Foto: Aayush Srivastava/Pexels


O aplicativo de transporte particular 99 publicou uma pesquisa, feita a partir da própria plataforma, que elegeu as dez cidades mais engarrafadas do Brasil. A surpresa está no pódio: Niterói tem o pior trânsito do país, superando grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, em 8º lugar no ranking, e São Paulo, que ficou na sétima posição. A análise foi feita a partir da relação entre distância e tempo de viagem nos trinta centros onde mais se utiliza a plataforma. A Cidade Sorriso desbancou as duas maiores capitais do país com horários de pico até 80% mais lentos do que o normal.
Jailson Salles é taxista em Niterói há 8 anos, e todos os dias enfrenta o estresse do engarrafamento da cidade, que “já é muito engarrafado, porém fica muito pior no horário de pico”. O congestionamento chega a afetar a saúde do motorista, que diz ter dores na perna causadas pelo uso constante dos pedais, e o tempo que passa sentado no carro, parado no trânsito.
Os problemas enfrentados por Jailson são os mesmos que outros muitos motoristas vivenciam no dia-a-dia. A prefeitura, ciente dos problemas que afetam a vida dos niteroienses, já realizou intervenções pela cidade em busca da melhoria do tráfego. Em 2017 foi inaugurado o Mergulhão da Praça Renascença, com o intuito de desafogar o trânsito, principalmente dos coletivos que vêm do Terminal João Goulart em direção à Ponte Rio Niterói e à Alameda São Boaventura, mas os motoristas ainda encontram dificuldades. Vias importantes da cidade, como a Visconde do Rio Branco e Ernani do Amaral Peixoto, as duas principais do Centro, sofrem com o trânsito intenso. A Rua Marquês do Paraná, que liga o bairro à zona sul através de Icaraí, não depende nem de horário de pico para estar engarrafada. E as ruas Roberto Silveira e Miguel de Frias, que levam o fluxo do carros de Icaraí para o Centro, também passam mais tempo engarrafadas do que livres.
Existem projetos no planejamento da cidade, como a criação de um Corredor Metropolitano, com faixas exclusivas para o fluxo dos coletivos, com controle centralizado e acionado pela demanda. O alargamento das vias, quando possível, também está nos planos da Prefeitura, para melhorar a acomodação do fluxo. Algumas dessas obras já começaram, como a expansão da Avenida Marquês do Paraná, via que liga os dois principais bairros da cidade. No entanto, um ano após o seu início, a remodelação ainda não terminou, mesmo com o prazo dado pela Prefeitura ter sido o segundo semestre de 2018.
Para o presidente da NitTrans, Coronel Paulo Afonso Cunha, o trânsito em Niterói tem origem principalmente no número de carros. A cidade possui 500 mil habitantes e 298 mil carros, para 32km² de área. Assim, para ele, a pesquisa do aplicativo 99 não corresponde ao trânsito da cidade. “Eu não concordo com a pesquisa. Nossos números em termos de acidentes, em termos de entroncamentos, mostram que o trânsito está numa faixa boa, tanto de segurança, quanto de fluidez. A nossa visão é de que o trânsito em Niterói acompanha o seu IDH”. O Índice de Desenvolvimento Humano da cidade é o mais alto do estado, e o quarto maior do Brasil. “Nós não consideramos o trânsito aqui como essa 99 declarou, que é o pior trânsito do país. Ela fez um cálculo errado na minha acepção”, completou.
O professor do Setor de Transportes da Engenharia Civil da  UFF, Levi Salvi, aponta que Niterói cresceu de forma pouco ordenada e no passado não existiu um projeto efetivo de médio e longo prazo para o sistema viário, como é comum em cidades planejadas, com vias expressas, arteriais, coletoras e locais. Na maioria das cidades brasileiras, entretanto, grande parte do percurso é realizado por vias locais e de pequeno porte, e mesmo assim, parte da via é utilizada para estacionamento de veículos na lateral.
Levi ainda aponta uma provável solução: “A experiência vivida por outros centros urbanos semelhantes mostra que os projetos que terão melhor resultado prático estão ligados ao transporte coletivo e de massa com qualidade, que diminuem o número de veículos particulares e individuais em trânsito. A expansão do sistema viário em área urbana densamente povoada é muito difícil, e tem inclusive um impacto social, como as desapropriações.”

Bicicletas: o transporte do futuro


Foto: Cristiana Raluca/Pexels

Fabiana Marques conta que faz uso da bicicleta desde que se mudou para Niterói, há sete anos, sendo o meio de transporte mais rápido para levar seu filho para a escola, além de não ter que se preocupar com estacionamento. Ela faz uso do carro apenas em momentos que precisa sair com a família toda, como em um almoço de domingo, um passeio mais distante ou uma visita a familiares. Fabiana acredita que a prefeitura não se mobiliza o suficiente para melhorar a vida daqueles que optam pela bicicleta: “Não existe segurança efetiva para os ciclistas nas ciclovias, frequentemente caminhões e carros estacionam exatamente em cima da ciclovia (para carga e descarga de materiais no comércio). Não há nenhuma placa de sinalização e os motoristas em geral não respeitam o limite de 1,5 m de distância das bicicletas. Sou ciclista de todos os dias e ainda carrego meu filho na cadeirinha. Faço a minha parte, sinalizo com os braços e minha bicicleta tem retrovisores, isso me ajuda muito”.
Levi considera ciclovias como uma tendência mundial:  “Acredito que os resultados serão mais efetivos se a construção da ciclovia vier acompanhada de uma política pública mais ampla de incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte urbano. As ciclovias são relativamente recentes no Brasil e nos grandes centros urbanos, como é o caso de Niterói. Com um pouco mais de tempo e experiência, os pontos falhos serão ajustados e obteremos bons resultados”.
Para o Coronel Paulo Afonso Cunha, presidente da NitTrans, a bicicleta é uma alternativa possível para a cidade. “O meu sonho é que, ao invés de termos 298 mil carros, tivéssemos 298 mil bicicletas em Niterói. Não haveria poluição, não haveria tantos acidentes, tanta violência. Só que temos apenas 5 mil bicicletas na cidade”. Segundo Cel Paulo, a Prefeitura de Niterói é extremamente favorável ao transporte de bicicletas, através do projeto de mobilidade urbana que expande as ciclovias e ciclofaixas na cidade. Além disso, a cidade inaugurou o Bicicletário da Praça Araribóia e também pretende inaugurar um bicicletário em Itaipu, finalizando a Transoceânica e integrando a bicicleta com o transporte o transporte de massa.
“As duas mais importantes ruas de Niterói, Ernani do Amaral Peixoto e Roberto Silveira, possuem ciclovias. E temos mais de 20 km de ciclovias. Damos todo o apoio ao transporte de bicicleta. Já terminamos? Não, ainda tem muita coisa. Mas também precisamos dar apoio às motocicletas, aos caminhões de carga e descarga, aos ônibus”, afirma.

Escape do trânsito!


A cidade conta com site e conta oficial no Twitter, com o nome de Nittrans, para informar sobre trânsito e transportes. Também é disponibilizado um número de Whatsapp [(21) 98400-5519] para melhorar a comunicação da população com a Nittrans. Além dos canais oficiais, os niteroienses contam com diversos perfis e grupos nas redes sociais, como é o caso da Niterói Radar no Twitter, que atualiza constantemente as informações sobre o tráfego.

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