Em meio aos “campis” IACS, Gragoatá e
Praia Vermelha, da Universidade Federal Fluminense, a cultura se faz presente
na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. De 04 de abril a 04 de agosto, o Museu
Janete Costa de Arte Popular apresenta a mostra “Piauí entre anjos e palmeiras”.
O curador Jorge Mendes contou com o apoio do Governo do Estado do Piauí, do
Sebrae Piauí e do superintendente do Centro de Artesanato, Jordão Costa, para
montar a exposição. Seu objetivo é, em suas palavras, “homenagear a arte
santeira, as palmeiras e também a discussão que está permeando a arte popular
no momento – a ditadura”.
A proposta é dar visibilidade para a
arte popular do estado do Piauí, o muitas vezes esquecida no país. A arte
santeira piauiense é celebrada através da obra de seus mestres: José Alves de
Oliveira (Dezinho), Expedito Antonino dos Santos (Expedito) e José Cornélio de
Abreu (Cornélio). Esses artistas da primeira geração talham as carnaúbas,
buritis e babaçus, palmeiras nativas presentes no Brasão do Estado do Piauí e
no cotidiano de seu povo, em forma de anjos. A arte santeira é reconhecida como
patrimônio cultural do estado.
As colunas de mestre Guilherme de
Parnaíba mostrando a vida de homens e mulheres no sertão também podem ser
apreciadas na exposição. O céu azul com nuvens brancas do dia se contrapõe à
noite estrelada, diferenciando dois ambientes da exposição. A iluminação
noturna convida à sala em homenagem a mais um anjo piauiense reconhecido, o
“anjo torto” Torquato Neto. Figura importante na Tropicália está presente numa
volta ao tempo para o período da ditadura, unindo o passado e o presente nas
manifestações de “Ditadura nunca mais”, em cartazes nas vias urbanas.
Esse setor da exposição faz um convite
à “discussão simbólica sobre a liberdade”, segundo a mediadora Juliana Reis. Nas
paredes, pode-se observar, além dos cartazes de resistência, como “É proibido
proibir” e “Seja marginal, seja herói”, a letra do poema “Go back”, de Torquato
Neto, e capas de discos da Tropicália. Hélio Oiticica, grande amigo de Torquato
Neto, apesar de não ser piauiense, também é homenageado por sua importância
para a contracultura e inovação no modelo de arte interativa, que dialoga com
outra parte da exposição.
No segundo andar do museu, na Galeria
Mestre Expedito, estão expostas obras da segunda e terceira geração da arte
santeira, que estão à venda. Algumas das obras são o “São Miguel Arcanjo”, de
Raimundo Soares Cavalcante (Dico), que custa R$ 6 mil, o “Oratório de São
Miguel”, que custa R$ 1,2 mil, e o “Anjo”, de Joseilton Ferreira de Souza, o
qual está à venda por R$ 12 mil reais.
Ainda no segundo andar, fecha a
exposição uma área interativa que dialoga com as sensações provocadas pelo
contraste entre a claridade e a escuridão dos céus piauienses. Nas palavras de
Torquato Neto expostas no museu, “Ou você mexe com a forma, ou então não mexe
com nada”. Esse seria o convite para os visitantes interagirem com a exposição.
De um lado, “O que te aprisiona?”, com cores escuras do céu à noite, do outro,
“O que te liberta?”, com o azul de um céu de dia claro e o branco das nuvens.
As cores dão a sensação de um clima
mais leve ou mais pesado, o que contribui para que os visitantes exponham seus
sentimentos, através de bilhetes que podem ser deixados nos murais. Dessa
forma, aqueles que se interessarem podem deixar uma pequena contribuição para a
exposição. Do lado da liberdade, foi possível observar, no dia 17 de abril de
2019, recados sobre o amor, a arte, Deus e também sobre a liberdade de ser quem
se é sem sofrer repressão ou preconceito. Do lado da prisão, entre questões
sobre ansiedade tão presentes no mundo contemporâneo, pode-se observar críticas
aos 80 tiros dados pelo Exército que levaram à morte do músico Evaldo Rosa e do
catador de lixo Luciano Macedo.
Janete Costa, que dá nome ao museu, foi
uma reconhecida arquiteta brasileira, natural de Garanhus, Pernambuco. Formou-se
pela Universidade de Arquitetura do Rio de Janeiro, em 1961. Na época da
faculdade, mudou-se para Niterói e participou ativamente no processo de reformulação
urbanística da cidade. Contribuiu para a popularização do artesanato nos
projetos de arquitetura e design de interiores e para a apresentação da cultura
popular ao universo dos grandes colecionadores de arte brasileira.
A exposição teve abertura no dia 03 de
abril de 2019, e permanecerá até o dia 04 de agosto de 2019. O museu funciona de
terça a domingo, das 10 às 18 horas e fica na Rua Presidente Domiciano, 178, Boa
Viagem, Niterói.
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