Por:
Dani Alvarenga
Durante os protestos que ocorreram na
quarta-feira (15), bandeiras, cartazes e diferentes opiniões lotaram o Largo da
Carioca, área de intenso fluxo no Centro do Rio de Janeiro. Manifestantes se
misturaram com trabalhadores que passavam pelo local e distintas perspectivas
eram expostas nas ruas sobre os cortes de 30% das verbas destinadas às
universidades federais.
O presidente, que estava em Dallas,
Texas, expressou sua avaliação sobre os protestos que ocorriam pelo país:
"É natural, é natural. Agora... a maioria ali é militante. É militante.
Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da
água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão
sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o
núcleo de muitas universidades federais do Brasil."
O comentário de Bolsonaro gerou reações
imediatas nas manifestações. Cartazes ironizando a fala do presidente se
multiplicaram nas ruas de todo país. No Rio de Janeiro, a professora da Rede
Municipal de Educação de Niterói e Maricá, Ana Claudia Sampaio, a caminho para
o protesto questionou os cortes na educação apesar de diversos setores não
sofrerem bloqueios e afirmou que há uma tentativa do governo de descredenciar a
educação, colocando-a como uma questão apenas política. "Ela é política,
ela é necessária, mas a gente não pode misturar, dizer que estudante e que
professor vem pra escola pra fazer balbúrdia ou pra ideologia apenas. É
importante pra pesquisa, é importante desde a educação básica, jardim de
infância, até a universidade. O presidente declarou agora que somos idiotas,
ele vai ver a força dos idiotas nas ruas hoje".
Dois trabalhadores que estavam no local
e preferiram não se identificar afirmaram ser contra as manifestações que
ocorriam. Para eles, os estudantes estão sendo manipulados. Em relação ao
bloqueio de verbas, afirmaram que há necessidade de uma melhor organização do
dinheiro público. "Eu acho que vai ter um ajuste e não um corte. Realmente
as coisas têm que chegar no seu devido lugar, tem que passar um pente fino
mesmo, porque o dinheiro estava saindo pra tudo quanto é lado, menos para
beneficiar os estudantes”.
O movimento contra os cortes surgiu
através da Greve Nacional pela Educação, que paralisou 26 estados do Brasil. O
bloqueio foi anunciado pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no dia 30
de abril (terça-feira) e atingiria inicialmente apenas determinadas
instituições, como a Universidade Federal Fluminense, a Universidade de
Brasília e a Universidade Federal da Bahia. O ministro justificou os cortes ao
afirmar que as universidades permitem que ocorram eventos políticos,
manifestações partidárias e festas inadequadas ao ambiente universitário.
"Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico,
estiverem fazendo balbúrdia terão verbas reduzidas". Após reações críticas
à afirmação, o MEC anunciou que os cortes ocorreriam em todas universidades
federais. O posicionamento estimulou uma organização de manifestações em todo o
Brasil.
Além dos protestos, tendas expondo
pesquisas realizadas nas universidades federais foram montadas na Praça XV.
Carla Holandino, professora de Farmácia da UFRJ, coordenadora do projeto de
pesquisa que utiliza a homeopatia para o tratamento de pessoas dependentes do
fumo, defendeu a necessidade de expor as pesquisas realizadas nas
universidades: “A gente veio para praça primeiro pra defender o ensino público
gratuito e de qualidade. Então hoje a gente tá aqui pra dizer que a
universidade tem muito pra fazer pela população, os nossos projetos são das
mais variadas áreas”.
Já José Josaphat, aposentado de 78
anos, passando pelo protesto comparou o governo de Jair Bolsonaro com o mandato
de Collor: "Esse início lembra o início da política do Collor, fazendo
protesto até ele sair fora. Hoje tá começando. Eu tô achando que ele não vai
chegar até o fim do governo".
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