
Luis Carlos "Bocão" (75)

Geração que viveu ditadura militar junta-se a estudantes, professores e servidores, nas ruas do Rio de Janeiro, em oposição ao corte de verbas no setor da educação e em prol do ensino público.
Por Marco Antonio Victoy Stivanelli
Em meio a milhares de cartazes, bandeiras e faixas que expressavam indignação e resistência as recentes decisões governamentais, um deles se destacou em meio a multidão: "Jovem de 1968 apoiando os jovens de 2019 contra o corte de verbas". O texto, estampado num singelo cartaz azul, carregado por um senhor de idade, chamava a atenção dos que protestavam no ato em defesa da educação ocorrida no Rio de Janeiro, no último dia 15.
Tendo se iniciado na Candelária, que há 35 anos servia de espaço para as manifestações da Diretas Já, o ato seguiu de forma pacífica e organizada até a Central do Brasil, através da Avenida Presidente Vargas. O clima de resistência e revolta presentes no local foram para o também jovem de 68, Luis Carlos (75) "um resgate do sentimento de indignação daquele tempo". Luis, ou "bocão" como é chamado pelos amigos, foi estudante de graduação da primeira turma do curso de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e também vice-presidente da União Fluminense dos Estudantes. Para ele, estar presente e dando apoio a essa nova geração é uma sensação de continuar a lutar, mesmo que agora com outros objetivos.
"Sempre participei de movimentos como esse em defesa do que eu considero certo e justo, e não ia perder a oportunidade, mesmo com 75 anos de idade, de apoiar vocês jovens nessa luta pela educação e pelo futuro."
Após anúncio do ministro da Educação Abraham Weintraub, no dia 30 de abril, de que o governo realizaria um corte de 30% do orçamento das universidades federais que provocassem “balbúrdia” – citando a Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) como exemplos –, a educação se tornou o principal tema de discussão do país. A decisão foi encarada como muito problemática para Vera (64), uma engenheira agrônoma e professora aposentada da UFF, que viajou de Juiz de Fora exclusivamente para o ato.
"Eu acho que a balbúrdia é do próprio governo Bolsonaro. Quem convive com a comunidade acadêmica tem absoluta convicção de que isso é maluquice. A balbúrdia vem desse governo que não sabe para onde vai e o que quer."
Passadas vinte e quatro horas do decreto, e depois de ser amplamente problematizada por grande parte da população brasileira, o secretário de Educação Superior da pasta, Arnaldo Barbosa de Lima Junior,a informação, afirmando que esse corte se estenderia "de forma isonômica para todas as universidades". Na tentativa de conter as inúmeras reações negativas da população causadas por essas falas, o ministro Weintraub, por meio de uma live no Facebook no último dia 9, tentou explicar o corte por meio de barras de chocolate. Afirmando que o corte seria apenas de "3,5% dos valores destinados às universidades federais" ele não só virou motivo de piadas e memes na internet, como também não foi claro com suas palavras.
Esse cenário foi suficiente para que toda a comunidade acadêmica juntasse forças, aliada com uma ampla rede de organizações civis, e organizasse nas ruas de todas as regiões brasileiras um grande protesto contra essa decisão - que irá afetar não só os alunos, professores e funcionários das instituições, mas toda a produção de conhecimento científico do país. Para a professora Siomaria (67) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, essas medidas, visam a "acabar as possibilidades da educação poder ajudar o indivíduo a crescer, se libertar e possuir a possibilidade da crítica e do pensamento teórico".
Ainda no dia (15) o presidente Jair Bolsonaro, que estava em visita a Dallas, no estado norte-americano do Texas, afirmou que o bloqueio era necessário e os manifestantes eram "uns idiotas úteis, uns imbecis". Ele complementou dizendo que "é natural. Agora... a maioria ali é militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil".
As ofensas disparadas pelo presidente, no entanto, contrastam com os depoimentos dos manifestantes. É o que mostra a professora aposentada Cláudia (63), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): "É nossa obrigação nos unir e resistir a isso que está sendo colocado. Não podemos nos entregar de qualquer maneira, pois, essa é uma medida muito ruim para o país e para vocês estudantes. Principalmente para vocês."
No passado muitos tiveram sua voz silenciada ou abafada pelo regime militar instaurado no Brasil, que perdurou por mais de duas décadas. Por isso a importância dada por Luis Carlos, Siomaria, Vera, Claúdia e muitos outros jovens de 68, aos movimentos contrários à direção do governo. Como disse Jane (66), professora do Instituto de Medicina Social da UERJ, ao final do ato:
"Essas manifestações, são a chance que a gente têm de ir para a rua e mostrar nossa força, mostrar que a educação é uma questão muito relevante e que toca um conjunto de pessoas muito grande: desde educação básica, a família, colégios de segundo grau, as universidades públicas e particulares. Por isso, todos nós não podemos deixar de lutar."
Por Marco Antonio Victoy Stivanelli
"Eu acho que a balbúrdia é do próprio governo Bolsonaro. Quem convive com a comunidade acadêmica tem absoluta convicção de que isso é maluquice. A balbúrdia vem desse governo que não sabe para onde vai e o que quer."
Passadas vinte e quatro horas do decreto, e depois de ser amplamente problematizada por grande parte da população brasileira, o secretário de Educação Superior da pasta, Arnaldo Barbosa de Lima Junior,a informação, afirmando que esse corte se estenderia "de forma isonômica para todas as universidades". Na tentativa de conter as inúmeras reações negativas da população causadas por essas falas, o ministro Weintraub, por meio de uma live no Facebook no último dia 9, tentou explicar o corte por meio de barras de chocolate. Afirmando que o corte seria apenas de "3,5% dos valores destinados às universidades federais" ele não só virou motivo de piadas e memes na internet, como também não foi claro com suas palavras.
Ainda no dia (15) o presidente Jair Bolsonaro, que estava em visita a Dallas, no estado norte-americano do Texas, afirmou que o bloqueio era necessário e os manifestantes eram "uns idiotas úteis, uns imbecis". Ele complementou dizendo que "é natural. Agora... a maioria ali é militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil".
As ofensas disparadas pelo presidente, no entanto, contrastam com os depoimentos dos manifestantes. É o que mostra a professora aposentada Cláudia (63), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): "É nossa obrigação nos unir e resistir a isso que está sendo colocado. Não podemos nos entregar de qualquer maneira, pois, essa é uma medida muito ruim para o país e para vocês estudantes. Principalmente para vocês."
No próximo dia (30) estão marcadas novas manifestações e paralisações a nível nacional contra os cortes na educação. Todos os entrevistados afirmaram que estarão presentes.
Jovens de 68
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Vera (64 anos) |
"Eu não poderia perder essa oportunidade de estar presente com a comunidade em defesa da educação em todos os níveis."
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Cláudia (63) |
"Como eu estou aposentada, me senti na obrigação de vir e retribuir algo, dar algo de mim. Essa é uma questão muito importante para mim, pois, é como uma forma de retribuição por tudo que a faculdade pública fez por mim."
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Nicolas (69) |
"O futuro de vocês estudantes e jovens está em jogo agora com esse governo alucinado."
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Luis Carlos "Bocão" (75) |
"Com esse desgoverno que nós temos, não temos outra saída a não ser estar na rua, sempre."
"O projeto para a educação agora com o governo Bolsonaro é basicamente a destruição do ensino público, em nome do ensino privado. O que é uma maluquice, pois um grande percentual da sociedade brasileira na verdade precisa de ensino público, gratuito e de qualidade ."
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