Por Cecile Mendonça
Mesmo
com o tempo chuvoso, uma multidão saiu em passeata pela Avenida Presidente
Vargas e a Rua Primeiro de Março, no dia 15 de maio, para protestar contra o
bloqueio de recursos da educação anunciado pelo MEC. A PM não divulgou o
cálculo de pessoas presentes ao ato, mas segundo organizadores, estima-se em 150 mil. A manifestação foi pacífica até a
dispersão, às 19h35, quando houve um tumulto e um ônibus foi queimado.
As ruas
do Centro do Rio de Janeiro foram tomadas por milhares de pessoas, mas
principalmente por alunos da rede pública e particular, professores, militantes
políticos e sindicalistas, que protestaram contra os cortes na educação
promovidos pelo atual presidente Jair Bolsonaro, e pelo ministro da Educação, Abraham
Weintraub.
A manifestação na Candelária se iniciou às 15 horas e seguiu em passeata de forma pacífica por volta das 17h30 pela Avenida Presidente Vargas, sentido Zona Norte, causando alterações no tráfego, até a Central do Brasil, chegando pouco antes da 19h. Passando por várias ruas e avenidas da cidade, foram entoados cantos, como “a nossa luta unificou: é estudante funcionário e professor”, "ele não" e "tem dinheiro pro Queiroz por que não tem pra nós?" – fazendo referência a um ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, senador e filho do presidente.
Manifestantes protestam no Rio contra cortes na educação. –
Manifestantes protestam no Rio contra cortes na educação.
Durante o protesto, muitos explicaram como esse corte de 30% das verbas os afetarão diretamente:
— Com os cortes no instituto que eu estudo, só irá ter verba até agosto de 2019, assim não vai ter como terminar o meu técnico de petróleo e gás. Não sei o que irei fazer. – afirmou Daniel da Silva Cardoso, estudante do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Duque de Caxias.
Já o estudante de Turismo da UFF, Leonardo Von Radow, se queixou da decisão do Governo, pois o impossibilitará de se manter financeiramente na faculdade. "O dinheiro que eu recebo dos meus pais é menos que o necessário pra pagar as minhas contas mais básicas, como aluguel. Se antes dos cortes eu já perdi a bolsa que eu recebia, agora as esperanças são ainda menores", disse Leornardo. Ele ainda ressaltou a importância do ato afirmando que "os governos – todos eles – acham que podem fazer qualquer coisa e não é assim que funciona. Temos que lutar pelos nossos direitos, principalmente em situações de extrema injustiça como essa."
E não só os estudantes se mostraram insatisfeitos, como os pais também. A fisioterapeuta, Lucia de Fátima, mãe de uma estudante de Jornalismo da UFF, disse que a decisão do Governo implicará na "piora do ensino" gerando uma "falência das universidades".
— E isso não só pra minha filha, mas pra todos os jovens... eu me preocupo com todos. Tenho uma consciência de que a educação é a base para o progresso do país, para a autonomia das pessoas e para sua felicidade. Sem a educação o barco afunda, disse Lucia.
Opinião de Bolsonaro
Diante de todo esse cenário, o presidente Jair Bolsonaro apontou que os milhares de estudantes e professores do País são “massa de manobra”, manipulados por “uma minoria de espertalhona” que compõe as faculdades públicas do Brasil. Além disso, enquanto estava na porta de um hotel em Dallas, nos Estados Unidos – onde recebera o título de “Personalidade do Ano” da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos – ele fez uma afirmação sobre os estudantes: “A maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis”. O que causou bastante polêmica, inspirando cartazes das manifestações e falas nas redes sociais:
Cartaz ironizando fala de Bolsonaro que afirmou, referindo-se aos estudantes, que “se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada” – Foto: retirada do Twitter de @augustomassaro
Cartaz ironizando fala de Bolsonaro que afirmou, referindo-se aos estudantes, que "são uns idiotas úteis" – Foto: retirada do Twitter de @RenanAraujo1960
Postagem do usuário do Twitter @msoares que ironiza fala de Bolsonaro que afirmou, referindo-se aos estudantes, que "são uns idiotas úteis".
Ele também chamou os cortes de “contingenciamento” para não infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal, e novamente disse que essas decisões são consequências do estado econômico do país causado por governos anteriores. “A gente pegou o Brasil destruído economicamente também, com baixa nas arrecadações, afetando a previsão de quem fez o orçamento”, afirmou o presidente.
Rojões, fogos e ônibus queimado
Os manifestantes do protesto, que aconteceu pacificamente, foram surpreendidos com um ônibus sendo incendiado por volta das 20h na Avenida Presidente Vargas, após uma confusão que aconteceu na dispersão da passeata.
Antes de atearem fogo no ônibus, pessoas que estavam na via, algumas mascaradas, soltaram rojões e fogos de artifício. Um grupo lançou pedras e um objeto incendiário na cabine do programa de segurança Centro Presente.
Policiais militares reagiram disparando bombas de efeito moral, o que dispersou os manifestantes que ainda estavam no local. Houve correria e as estações de trem e metrô tornaram-se o principal refúgio do momento.
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