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professores e estudantes convidam população ao diálogo


Por Laís Rodrigues
No último dia 15, a Universidade Federal Fluminense (UFF) se uniu aos Sepes (Sindicato Estadual de Profissionais de Educação) de São Gonçalo e Niterói num ato em defesa da Educação Pública, na Praça Araribóia, em Niterói. Na manhã do dia do Ato Unificado na cidade do Rio de Janeiro, professores, pesquisadores e alunos da instituição reuniram seus trabalhos em tendas para apresentá-los à população que circulava pelo local.

Ao lado do Terminal Rodoviário João Goulart, área de grande circulação de moradores de municípios próximos que se locomovem para estudar e trabalhar diariamente, a comunidade acadêmica abriu os portões da universidade para interagir e compartilhar conhecimento com a população.


A Aduff (Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense) organizou a iniciativa em resposta ao corte de 30% das verbas das Universidades Federais, inicialmente dirigido à UFF, UFBA (Universidade Federal da Bahia) e UnB (Universidade de Brasília) e, principalmente, à justificativa anunciada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Esses cortes atingem as despesas discricionárias, que custeiam gastos como limpeza, água, luz e bolsas de auxílio aos estudantes.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 30 de abril, o ministro alegou que as “universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. O termo mobilizou a comunidade acadêmica a dar uma resposta imediata, que teve início com a manifestação do 08 de maio, em Niterói, na qual alunos, professores e funcionários caminharam do campus Gragoatá até a Estação das Barcas, em protesto.

Segundo o professor da Faculdade de Educação e Diretor da Aduff, Reginaldo Costa, as iniciativas são parte do calendário de lutas e mobilização definido na Assembleia Comunitária do último dia 06, que contou com mais de 500 pessoas, entre técnicos, docentes, estudantes e terceirizados. A manifestação foi o primeiro passo e teve mais de 15 mil pessoas, de acordo com o diretor da Aduff, e o ato unificado e o “Uff nas praças” seguiram o calendário, devido ao critério político ideológico atribuído à justificativa dos cortes.

Em suas palavras, “o governo federal colocou uma pauta de corte, no início, baseada num critério político ideológico, como se a UFF, a UnB e a UFBA fossem de esquerda e por isso merecessem perder verba, o que chama de balbúrdia. E isso mostra que tem um controle político ideológico também. Têm vários professores sofrendo perseguição por exercerem um preceito constitucional que é a liberdade de cátedra. A gente tem muito relato de professores em campus da UFF sendo perseguidos, tendo aula filmada”.

O “UFF nas praças” tem por objetivo aproximar a população da produção acadêmica científica, e esclarecer como a universidade contribui no dia a dia dos moradores, por exemplo, com o Hospital Universitário Antônio Pedro e o Centro de Artes UFF, em Niterói.

Segundo a professora do Departamento de Educação, Dinah Terra, “a ideia é que a aula fosse na rua, apresentando aquilo que se produz no ensino, na pesquisa e na extensão, para dizer que a gente adora festa, a gente é muito feliz, a gente é muito contente com aquilo que a gente faz, a gente trabalha demasiado, mas também a gente produz o suficiente. E a ideia é que a gente possa mostrar àqueles que estão passando o que a UFF faz dentro da universidade e que por diferentes motivos, de uma grande mídia, de uma mídia fechada, às vezes, não aparece. A gente produz muito, mas fica muito falando para nós. A ideia de vir para a rua é mostrar”.

De acordo com Dinah Terra, os trabalhos apresentados no dia foram: “o projeto de Ensino de surdos sob a perspectiva bilíngue, do Departamento de Letras; Ciência sob tenda, do Instituto de Biologia; Preservação do audiovisual, cinema e educação e Inventar com a diferença, do Departamento de Cinema e Vídeo; Café com a UFF; Como identificar e se proteger de notícias falsas, dos alunos de Pedagogia, e revistas da produção da universidade”, como a Revista Aleph.

Projetos relacionados diretamente ao Ensino Básico predominaram no evento, o que atendeu às reivindicações do público presente, já que os cortes do Ensino Superior também foram justificados, pelo governo, por um incentivo maior à Educação Básica. O que não ocorreu, pois houve cortes também nessa área.



Ao apresentar o “Ciência sob Tendas” para uma senhora, o coordenador do projeto de extensão, Gustavo Henrique Alves, foi questionado se aquela atividade chegaria nas escolas, e respondeu: “Todo mês, nós vamos para colégios diferentes. Nós vamos levar toda essa exposição para lá. A gente leva tudo isso para ensinar as crianças e fazer com que os jovens não deixem de ter vontade de ser cientistas”.

O mesmo objetivo foi apresentado pelo professor do Instituto de Física e coordenador do projeto de extensão Casa da Descoberta, Lucas Sigaud. Pare ele, o intuito do projeto é mostrar para a população o que é desenvolvido na universidade, além de “incentivar, mostrar e despertar o interesse científico das crianças”. Ele destaca, ainda, que o projeto recebe muitas visitas de escolas, tem agendamentos diários de visitações de escolas públicas e privadas.

Sobre a situação do Ensino Básico, o professor do Colégio Estadual Joaquim Távora e base do Sepe Niterói, Diogo de Oliveira, relata os efeitos do corte de verbas: “Os cortes recentes que o governo do Bolsonaro fez no nível nacional não só atingem as Universidades Federais, a Rede Federal de Ensino, como também atingem vários programas da Educação Básica, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio”.

Segundo ele, “houve cortes, por exemplo, no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). O FNDE financia, por exemplo, o programa de alimentação escolar, o programa de transporte escolar, livro didático, livros literários para compor as bibliotecas das escolas, transferências de verba para construção de escolas. Então, a situação de todos esses programas piorou com o corte de verbas. E, além disso, esse modelo de gestão pública está sendo copiada tanto no Estado do Rio de janeiro quanto na Prefeitura de Niterói. A Reforma da Previdência é uma reforma nacional, mas ela também tem pacotes nos estados e nos municípios”.

Sobre a relevância da iniciativa, ele comenta “a gente também tem que fazer um movimento pela defesa de qual condição de Educação Pública que a gente defende. E a luta da categoria aqui em Niterói tem muito a ver com a defesa de uma escola de educação integral, de qualidade, com profissionais de educação concursados e valorizados, ter, por exemplo, bibliotecas escolares, climatização das unidades escolares de toda a rede. Uma série de lutas pelas quais nós estamos nas ruas hoje”.

Em relação à recepção do público, Reginaldo Costa afirma que “muita gente da sociedade está apoiando”. E Lucas Sigaud comenta que “as pessoas vêm se interessam, querem saber mais, querem saber o que isso tem a ver com pesquisa de ponta, o que pode ser aplicado em casa. Muitas delas nunca viram uma coisa dessa sendo demonstrada dessa forma. A ciência é essa. Física não é a arte de achar respostas, é de achar perguntas”.

A apresentação de muitos projetos ligados diretamente ao Ensino Básico e à presença de representantes das escolas promoveram a união de todos pela luta por uma educação de qualidade em todos os níveis. Cartazes foram confeccionados para o ato unificado pela educação da tarde do mesmo dia. A iniciativa gerou frutos. Na quarta, 22, e no sábado, 25, a comunidade acadêmica saiu da universidade novamente, convidando a população para o diálogo.



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