Por Victória Henrique
Os atos que aconteceram em todo o
Brasil, no dia 15 de maio, a favor da educação pública e de qualidade, estavam
tomados de pessoas com histórias de luta e superação. Três mulheres negras, de
gerações diferentes, contaram as suas histórias e deram depoimentos sobre as
dificuldades que passaram para ingressarem nas instituições públicas.
"Senhor Ministro e senhor Presidente, educação
pública é fundamental para que esse país seja mais diverso e mais
inclusivo."
Essa declaração é da professora de
História, Cláudia Calmon. Mulher negra, moradora do bairro Turiaçu, zona norte
do município do Rio, e formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). Ela era uma entre tantas outras manifestantes com histórias
inspiradoras que marcaram presença no ato contra os cortes na educação. Filha
de pais migrantes, ela e as suas irmãs foram a primeira geração da família a
ingressar em uma universidade. Hoje, ao
afirmar que possui uma qualidade de vida muito superior, Cláudia é enfática ao
dizer que é graças a sua trajetória acadêmica.
A história de Cláudia exemplifica a
dificuldade da população negra ao ingressar no ensino superior. Ao visualizar o
quadro da educação brasileira, observa-se que há diferenças no perfil de
pessoas que têm acesso a ela. De acordo com uma pesquisa realizada no ano
passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no
Brasil, há cerca de 11,46 milhões de analfabetos entre a população de quinze
anos ou mais. Dentre estes, 73% são considerados pretos e pardos e 26% brancos.
Quando se restringe ao âmbito de pessoas de vinte e cinco anos ou mais que
possuem ensino superior completo no país, os pardos e pretos são apenas 9,3% do
total.
A atitude do atual Governo Federal
de cortar verbas da educação pública complica ainda mais esse cenário quando
inviabiliza o funcionamento de escolas e faculdades e a permanência de
estudantes, em especial, os negros e de baixa renda nessas instituições. Eduarda
Pires, que foi aprovada,
no início desse ano, na pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e que depende da bolsa auxílio para conseguir manter os seus estudos,
afirma que entrar em uma universidade é relativamente fácil ao comparar com as
dificuldades existentes para se manter dela e destaca: "A universidade é
pública, mas não é de graça".
As verbas destinadas às faculdades
federais são para pagamento de duas despesas: a obrigatória e a discricionária.
A primeira se refere a custos como o pagamentos de salários dos servidores e
aposentadorias, e que, por isso, não pode sofrer cortes. Já a segunda diz
respeito a gastos como contas de água, luz e bolsas acadêmicas, sendo passível
de bloqueios de verbas. São essas verbas destinadas para esses custos que foram
cortadas pelo Governo Federal. Ao total, foram bloqueados 2,5 bilhões de reais
da educação.
Embora esses cortes já estejam impactando tanto as universidades
federais quanto os colégios federais, eles continuam, na medida do possível, com
os seus projetos e trabalhos, ocupando assim as primeiras posições no ranking
de melhores instituições de ensino no Brasil e portanto, sendo motivo de
orgulho para os seus estudantes. Esse é o caso do colégio Pedro II, que sofreu
cortes no seu orçamento equivalente a 18,68 milhões, mas permanece com as suas
pesquisas até como forma de resistência, além de ter
alcançado bons resultados na Prova Brasil (Sistema de Avaliação da Educação
Básica), divulgados em janeiro desse ano pelo INEP/MEC. Gabriela da Silva,
aluna do colégio e que passou em primeiro lugar na prova, fala que o Pedro II
não é somente uma escola, é um lar que abriga os estudantes e que possui
projetos de extrema importância. "Para mim o CPII é cultura, para mim o
CPII é tudo!", conclui.
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