Corte dos terceirizados da UFF atinge em cheio os vigilantes
Por Ghabriella Costermani Machado
De
acordo com o dicionário Aurélio, a palavra segurança significa
o afastamento de todo o perigo, uma garantia de que nada irá lhe acontecer,
representa a ação de se sentir seguro e soando quase como um zelo: Esta é a sensação
que diversos seguranças, vigilantes, assim como
funcionários do departamento de limpeza e administração da Universidade
Federal Fluminense repassam para os seus alunos. No entanto, esse
mesmo cuidado não tem sido oferecido de volta àqueles que, durante anos, têm
sido protetores dos diversos estudantes e docentes que passam pela instituição.
Como
funcionários da segurança, os vigilantes são responsáveis por preservar o
patrimônio e a estrutura da universidade, além de garantir a integridade física
dos estudantes. Com a ausência deles, os alunos esbarram em alguns obstáculos,
como não ter segurança no trajeto entre um campus e outro, e ter a alimentação
e o transporte universitário interrompidos. Inúmeros terceirizados da UFF
afirmam, porém, que o pagamento tem estado irregular desde novembro de 2018, ou
seja, sem uma data fixa – alguns confessam estar nessa situação há mais de
um ano. Outros confirmaram que hoje o atraso já teria completado dois meses
seguidos, tendo apenas o depósito de transporte em dia. Devido a isso, 70% dos
funcionários da faculdade entraram em greve, enquanto os outros 30% continuam
trabalhando sem receber. Alguns trabalhadores do setor de refeição e transporte
também aderiram à paralisação como forma de protesto, tendo os serviços de
refeições noturnas oferecidas pelo
“bandejão” e
o “busuff” sofrendo reduções.
Segundo ao portal G1, 100 funcionários teriam sido demitidos apenas no ano de 2019. Os poucos que exercem essa função há vários anos contaram que diferentes colegas, que estiveram lado a lado com eles por quase uma década têm enfrentado dificuldades. Alguns dos terceirizados afirmam que enquanto uns foram despejados de suas casas por não ter conseguido pagar o aluguel, contas de luz e água, outros não têm sequer o que comer e acabando dependendo de ajuda - seja de familiares, amigos e até mesmo de alunos e professores.
A
partir daí diversas paralisações e mobilizações foram sendo feitas em prol da
regularização dos direitos dos trabalhadores da Universidade Fluminense. No dia
15 de abril, houve uma mobilização por parte dos terceirizados das
empresas Luso-Brasileira e Croll, reivindicando o pagamento do
salário ainda do mês de março. Segundo a redação da Associação de
Docentes da UFF (ADUFF), os
constantes atrasos nos salários e a possibilidade de encerramento do contrato
entre as empresas terceirizadas e a UFF são motivo de preocupação entre os
trabalhadores da faculdade, que se manifestaram.
No
mês seguinte, após essa mobilização, a universidade efetivou novos cortes por
todo o campus do Gragoatá. No dia 28 de maio, houve uma singela despedida para
os funcionários do Instituto de Geociências da UFF (IGEO). Três dias depois
(31), alunos e professores fizeram uma homenagem aos muitos servidores que se
juntaram aos mais de 100 demitidos.
Já
em 19 de junho, uma internauta desabafou em suas redes sociais, relatando sobre
novos casos de contratados que receberam demissão: “Hoje acordamos com menos 400 funcionários de setores
fundamentais para o funcionamento da Universidade. 400 terceirizados demitidos!
400 famílias atingidas! Inclusive a única funcionária do LAB, minha amiga e
braço direito. Segurança em greve por falta de pagamento. Sem previsão”. Na
quarta seguinte, o diretor do curso de Direito da UFF, Wilson
Madeira, também realizou um evento de despedida. Inara Juvita, estudante de direito e
membro do centro acadêmico, relatou sobre o café da manhã concedido aos
funcionários. “Os estudantes fizeram algumas cestas básicas,
criamos um grupo e cada período fez uma cesta. Toquei mais um café para o
pessoal da limpeza que foi despedido, mas não como celebração, não há nada a
ser comemorado. Mas em atitude de agradecer o que esses funcionários fizeram e
fazem pela UFF”.
As
movimentações continuaram sendo realizadas por pequenos grupos
de estudantes, que disponibilizaram alguns pontos de coletas pelos blocos da
faculdade - como no campus do Gragoatá e IACS -, a fim de
angariar recursos e ajudar aqueles que estão em situação de dificuldade. No entanto, um
vigia que preferiu não se identificar contou que apesar de se tratar de um
gesto bonito, o constrangia um pouco. “É bonito, nós valorizamos, mas isso
de fato não muda nada. Enquanto estivermos aqui, para eles (empresas
responsáveis pelos trabalhadores e UFF), estará tudo bem”.
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