Por Cecile Mendonça
Imagens de divulgação
“Isso é muito Black Mirror”. A frase viralizou, tornando-se até meme entre os espectadores, para referenciar fatos pesados da realidade que se conectam à série. Mas, com o lançamento da quinta temporada, diversas discussões foram levantadas entre os críticos e fãs. Parte acredita que a série perdeu o seu impacto e outros afirmam que a identidade do seriado se mantém. Foram apenas 3 episódios, e o último deles foi o que mais se destacou negativamente entre os fãs, sendo considerado por muitos um episódio fraco e fora da temática da série. Estaria então Black Mirror “menos Black Mirror”?
Black Mirror é uma série de ficção científica da televisão britânica, criada por Charlie Brooker, centrada em temas atuais e distópicos, trazendo uma certa obscuridade e satirização do comportamento humano diante dos avanços tecnológicos. A série basicamente examina a sociedade moderna, pautada principalmente nas consequências imprevistas das novas tecnologias, apresentando episódios autônomos, com elencos e histórias diferentes, que se passam no futuro ou em um presente alternativo.
A série começou a ser transmitida pela emissora Channel 4, no Reino Unido, em dezembro de 2011. Mas, em setembro de 2015, a Netflix comprou a série e logo organizou uma terceira temporada de 12 episódios que, na verdade, deu origem à terceira e à quarta temporada, já que foram divididos em seis episódios cada. A série recebeu aclamação da crítica e aumento de interesse internacionalmente, principalmente nos Estados Unidos, depois de ter sido adicionada à Netflix.
‘Parece um filme da sessão da tarde’
Essa foi uma das principais declarações sobre o último episódio da quinta temporada.
Usuário do Twitter @under_thor compara episódio ‘Rachel, Jack and Ashley Too' a um filme de sessão da tarde
Usuária do Twitter @jaquebelloni demonstra insatisfação com a quinta temporada de Black Mirror e compara episódio ‘Rachel, Jack and Ashley Too' a um filme de sessão da tarde.
E sendo Rachel, Jack and Ashley Too um dos episódios mais esperados pelos espectadores, pela atuação da atriz e cantora Miley Cyrus, ele acabou decepcionando grande parte dos fãs, já que caminha pelo clichê desde o início da trama. Além de acontecer uma série de situações exageradas e forçadas, que muda todo o conceito Black Mirror e se torna um título digno de se estar na Sessão da Tarde.
Mas, há também quem tenha gostado da última temporada, como Ana Carolina Ribeiro, estudante de Publicidade e Propaganda, que declarou estar muito satisfeita com Striking Vipers pelo protagonismo negro e pela exploração da sexualidade da pessoa negra que é bastante objetificada. Ressaltou também ter gostado porque “revelou uma das facetas dos relacionamentos modernos, mexendo com o tabu da monogamia e tudo mais”. Para Ana Carolina, Smithereens “foi um soco no estômago”. Ela se impressionou com a forma que o episódio aborda a dependência das redes sociais, e como tudo se torna banal e passado tão rápido. “Mostrar o mecanismo da relação entre a novidade que é constante nas redes sociais e como isso afeta nossa forma de ver as coisas foi genial”, diz Ana.
Contudo, ela confessa que Rachel, Jack and Ashley Too foi o que mais a desapontou. Inclusive, falou sobre as expectativas que tinha para o episódio: “Achei que ia ser um episódio abordando como a tecnologia pode nos dominar e o quanto não questionamos mais as coisas por isso. Acreditava que a boneca daria comandos como “se jogue da ponte” e a personagem iria obedecer, algo assim”, explica. Mas, apesar do terceiro episódio não ter sido exatamente o que esperava, Ana Carolina classificou a temporada como “8/10” e ainda complementou dizendo que está recebendo muitas críticas negativas do público, porque, na realidade, “trata-se de uma crítica a nós mesmos e é difícil de engolir...se autocriticar”, afirma a estudante.
Contudo, ela confessa que Rachel, Jack and Ashley Too foi o que mais a desapontou. Inclusive, falou sobre as expectativas que tinha para o episódio: “Achei que ia ser um episódio abordando como a tecnologia pode nos dominar e o quanto não questionamos mais as coisas por isso. Acreditava que a boneca daria comandos como “se jogue da ponte” e a personagem iria obedecer, algo assim”, explica. Mas, apesar do terceiro episódio não ter sido exatamente o que esperava, Ana Carolina classificou a temporada como “8/10” e ainda complementou dizendo que está recebendo muitas críticas negativas do público, porque, na realidade, “trata-se de uma crítica a nós mesmos e é difícil de engolir...se autocriticar”, afirma a estudante.
Por que Black Mirror choca cada vez menos?
Para Maria Isabel Rodovalho, criadora do site e página ‘Cinemalize’, a série apenas se propôs a ser diferente inicialmente. “Então, o público, no geral, acaba sempre esperando reviravoltas no enredo como carro-chefe da série quando, na verdade, o carro-chefe é mostrar esse futuro distópico, que pode ser que aconteça ou não. O importante é focar nos comportamentos e realidades que já vivemos”, explica.
Em relação às avaliações negativas de boa parte do público às duas últimas temporadas, ela afirma que não acredita que a qualidade diminuiu, apesar de confessar que a última temporada não a tocou muito. Mas explica que a série cumpriu o seu objetivo. “Eles causaram o efeito de “meu Pai, o que tá acontecendo com a realidade?", afirma.
Além disso, Maria nos conta sobre a experiência de conversar com Charlie Brooker – criador da série – na conferência Rio 2C este ano. Segundo ela, Brooker disse que ele não se propõe a falar sobre coisas ‘descoladas’ da realidade. Ele é apenas inspirado pelas tragédias da sociedade contemporânea para escrever seus episódios. “Eu facilmente faria um episódio sobre a onda de extrema direita no Brasil, usando sua distopia característica”, diz Charlie.
Mas, enquanto para uns a série continua seguindo o seu conceito, para outros não é bem assim. Segundo o escritor e crítico do site Loucos por Filmes, Hugo Vinicius Pereira, “a série vem demonstrando uma queda flagrante de qualidade ao se tornar repetitiva em suas crônicas ou fantasiosa demais”. Ele explica que nas duas últimas temporadas, quase tudo girou em torno de usos diferentes de um mesmo conceito. E para Hugo, ao explorar muito uma mesma ideia, a série acaba variando na qualidade das suas histórias e expondo as falhas desse conceito de forma muito evidente. “Isso faz com que acostume a audiência e acabe se tornando previsível, algo que a série não costumava ser, e justamente por isso se tornou um grande sucesso”, afirma.
Acreditando que Black Mirror continua sendo “muito Black Mirror” ou não, ainda assim vale a pena conferir a nova temporada. Com o primeiro episódio filmado em São Paulo, estrelado por Anthony Mackie, de Vingadores, e Yahya Abdul-Mateen II, de Aquaman, o episódio começa repleto de potencial, discutindo relações no espaço virtual. Após, vem o destaque da temporada com Andrew Scott, de Sherlock, que traz um tenso debate, satirizando a obsessão pela cultura do Vale do Silício e o poder das empresas por trás das redes sociais. E, por fim, no episódio com Miley Cyrus, apesar de pouco impactante, promete divertir, além de construir uma crítica pesada à indústria musical e artistas fabricados.
Belíssimo texto. Boa reflexão. Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom!
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