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Copa da representatividade



Por João Eduardo Dutra

A Copa do Mundo vai chegando em suas fases finais na França. Ué, mas a Copa do Mundo não foi ano passado na Rússia? Calma, sim, teve Copa do Mundo no ano passado, mas essa foi a masculina. A competição que está ocorrendo na França em 2019 é a Copa do Mundo de futebol feminino. Em sua oitava edição, a competição contém 24 times e ocorre desde 1991.

Poderíamos discutir a qualidade esportiva do evento que contém uma seleção tão talentosa quanto a americana, que conta com grandes jogadoras como Alex Morgan e Carli Lloyd. Ou da forte seleção francesa, que joga em casa e tem como base o time do Lyon, que foi quatro vezes campeão da Champions League nos últimos anos. Falar do Brasil que, embora não viva seu melhor momento, tem a presença da artilheira Cristiane, a interminável Formiga e a maior artilheira de copas do mundo (masculino e feminino) e seis vezes melhor jogadora do mundo, a rainha Marta.

Mas não, o texto de hoje não é para debater a importância esportiva do evento, é para debater a importância por si só que tal competição tomou. Na Copa do Mundo de 2018, os franceses jogavam pelos franceses, brasileiros pelos brasileiros e assim por diante. Assim ocorre na maioria dos eventos esportivos envolvendo nações, o time nacional representa o seu povo. Mas a Copa do Mundo da França venceu essa barreira.

Isso pode ser notado pelas diversas torcedoras dessa copa, mulheres que tinham ou não interesse pelo futebol, mas que se sentiram representadas dentro dos gramados. Como a estudante de jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) Ghabriella Costermani. Ghabi, como gosta de ser chamada, sempre assistiu a jogos de futebol, mas nunca sentiu vontade de saber mais a fundo sobre o esporte, assistia, como muitos, pela emoção do ‘jogo bonito’.

“Desde criança eu assisto a jogos de futebol. Nunca fui atraída em saber as regras, qual o melhor time e jogador, nem de acompanhar meu clube ou coisas assim. Eu simplesmente gosto da alegria, da tensão, de ver jogadas bonitas e de vibrar junto com todo mundo quando o narrador grita gol”, diz Ghabi.

Todo esse sentimento se elevou com a copa, mas não qualquer copa, a copa que a estudante conseguia se ver em campo.

“Com a copa eu sinto que todo mundo se une. Sente o mesmo sentimento. Quando o Brasil ganha, todo mundo ganha, a mesma coisa quando perde. Essa comoção que abrange todo mundo é do que mais gosto. No entanto, eu sempre vi apenas homens em campo. Era legal, mas ver agora mulheres jogando, me cativou ainda mais. Me sentia representada, quase como uma prova de que ‘opa, pera..Claro que mulher pode jogar futebol’.”

Ghabriella foi uma das inúmeras mulheres que sentiram orgulho da seleção canarinho em 2019 e se sentiram representadas cada vez que Marta, Debinha, Formiga, Cristiane e companhia entravam nas quatro linhas.

“Foi um time que me deu muito orgulho, orgulho de ser brasileira e orgulho de ser mulher. E eu quero que outras se sintam assim também, sabendo que sim, claro que a gente pode colocar uma chuteira no pé e merecer o reconhecimento, serem televisionadas e serem cativadas pela nossa torcida. Eu espero que cada vez mais haja patrocínio, mídia, torcida, muitas bolas nas redes e outras coisas que deixam a todos felizes. Mas que possa ter principalmente reconhecimento de incríveis mulheres, que representa cada uma de nós lá dentro”.

Muito mais que representantes de sua nações, essas seleções representavam o seu gênero. A cena emblemática das jogadoras brasileiras cantando “jogadeira” na chegada do primeiro jogo, uma música escrita por Cacau e Gabi Kivitz, duas jogadoras de futebol, que trata um pouco do machismo em relação ao esporte. Essa foi a Copa da exposição pela luta da representatividade.

Um dos exemplos disso é o processo que a seleção americana está movendo contra a organização do esporte no país. A recorrente diferença salarial entre sexos. O jogador mais bem pago da seleção masculino ganha quase 200 mil dólares a mais que a jogadora mais bem paga. Diferente do Brasil, a organização e a própria constituição americana teriam leis que em tese evitariam essa diferença, mas não é o que acontece na prática.

O processo foi iniciado em 2016 e a resposta da federação para a não igualdade foi que, necessariamente, não era o mesmo trabalho que jogadores e jogadoras desempenhavam. Se esse é o caminho que a federação quer usar, a diferença faz menos sentido ainda. A seleção feminina americana é a mais vencedora do esporte e, sem dúvida nenhuma, é a mais vencedora do futebol no país. Não existe comparação entre os dois times. Outras ligas americanas como a Woman National Basketball Association (WNBA) tem a geração de receita e o fato de ser uma organização diferente como explicação da diferença salarial quantitativamente. Mas no caso do futebol, a seleção feminina gera mais receitas e lucro que a masculina. Ou seja, a ‘U.S. Soccer’ (Federação de futebol nos Estados Unidos) propõe as mesmas condições de trabalho e mesmas expectativas, recebe mais receita pela equipe feminina e ainda assim promove a diferença salarial.








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