Dada a impaciência de alunos e a exaustão de professores e pais, até que ponto esse ano letivo funciona para aos pequenos?
Por Ana Beatriz Lopes
Desde março sem aulas presenciais por conta do inicio da pandemia, chegou ao final de um ano letivo atípico e bastante estressante para alunos em fase alfabetização, visto que as aulas a distância têm sido um desafio enorme para crianças e adolescentes de todas as idades. A situação ainda é mais preocupante em relação aos pequenos, entre os 6 e 7 anos, que estão na fase de juntar palavrinhas, aprender a ler e compreender o que está sendo lido, tudo isso tendo o professor somente do outro lado da tela.
No dia 28 de novembro ocorreu em Niterói uma carreata em prol das volta as aulas de escolas particulares. Sob o slogan “lugar de criança é na escola”, reivindicava a liberação dos colégios. Mas o prefeito Rodrigo Neves (PDT) vetou qualquer possibilidade de retorno no momento: “Não está prudente”, resumiu Neves em sua rede social.
Uma pesquisa da Avaliação Nacional da alfabetização (ANA) apontou que 54,73% dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental não possuem conhecimentos de leitura suficientes. O quadro mostra que mesmo em situações normais a alfabetização não é eficaz em 100% dos casos.
O aluno em alfabetização Bernardo Saraiva, de apenas 7 anos, faz sua avaliação sobre o período remoto: “Não gosto muito das aulas assim, preferia quando era lá na minha escola, tinha a professora perto e mais tempo de recreio também. Pelo computador é mais chato e também não tem como conversar com meus amigos direito".
Bernardo durante a aula de matemática.
A mãe do pequeno Be acrescenta: “ O Bernardo tem dificuldade de parar para prestar atenção na explicação, muitas vezes esquece o que foi passado minutos depois. Conversando com outros pais, eles me contam o mesmo problema. Em casa parece que eles têm muitas distrações”.
Alessandra Saraiva conta um momento de exaustão do Bernardo na aula a distância: “Em junho, a escola informou que a turma teria uma festa junina online, era uma data que o Bernardo sempre amava na escola, mas dessa vez ele pareceu tão cansado e desanimado que acabou pegando no sono durante a aula”.
Bernardo durante a festa junina online da turma.
A rotina de tarefas após as aulas também gera incômodos nas crianças, que passam a maior parte do tempo em frente à tela do computador. “Confesso que as vezes chega a ser esgotante, porque além da aula, os professores passam uma série de deveres de casa na plataforma, e ele não quer fazer, chora e sempre questiona o por que de não poder voltar para a escola”, aponta a mãe do Bernardo. A Alessandra também relata os problemas técnicos que ocorrem durante os encontros: “Às vezes é um desastre, é criança almoçando durante a aula, é internet daqui de casa que resolve cair, é computador desligando durante a explicação, isso tudo acaba dificultando ainda mais a evolução da aula, né?”.
Apesar de inúmeras dificuldades durante esse ano letivo online, a responsável do Bernardo conta que em nenhum momento cogitou desistir de mantê-lo nas aulas. Ela considera que um ano perdido pode significar muito no decorrer da aprendizagem fundamental. “É um ano diferente para todos, em que buscamos adaptação, e sim, em alguns momentos é estressante e desgastante, mas desistir não está em questão, a alfabetização é vista com uma das fases mais importantes do ensino infantil, então seguiremos firmes nesse desafio, buscando a conclusão desta etapa”.
Uma professora de alfabetização da rede particular de Niterói que prefere não se identificar também relata o cansaço dos profissionais da educação. “Se é cansativo para a gente, professor, imagina para as crianças, mas infelizmente temos uma forte cobrança da escola também”, justifica.
Reprodução:EADBOX
A profissional conta também que os professores buscaram adaptar suas aulas. “Procuramos diminuir o horário de aula online, tendo em mente que a visão de tela cansa muito. Introduzimos dinâmicas e brincadeiras, fazendo com que esse momento de introdução à leitura seja mais diverso, aberto e relaxante, sem muita pressão sobre o aluno”.
Apesar de reconhecer a necessidade das aulas remotas neste momento, a professora questiona a efetividade do processo. “Alfabetização online não é impossível, mas é um grande desafio, uns alunos mostram ter facilidade, outros dificuldade, e está tudo bem, sabemos que a realidade de cada casa é distinta. Me pergunto se todos os alunos vão para o segundo ano sabendo ler e escrever bem. Acho que não. Por isso pensamos em medidas de inclusão geral para que nenhum aluno saia prejudicado ou tenha que repetir. Não vamos deixar ninguém para trás”, acrescenta.
A professora destaca que o método perfeito não existe e a participação de pais e mães no processo é fundamental. “É importante que nesse momento os responsáveis estimulem as crianças e treinem leitura todo dia em casa. Se tiverem condições, comprem livros paradidáticos com letras grandes e palavras de fácil entendimento, fazendo com que essas atividades possam complementar as aulas online e facilitando cada vez mais o entendimento do aluno”.
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