Os desafios de serviços que dependem do público das escolas e faculdade durante a pandemia
Por Fátima Moraes, Karina Vasconcellos, Keila Marques e João Marcos de Figueiredo
Estabelecimentos fechados ao redor da Praça Leoni Ramos, em Niterói. (Foto: Keila Marques)
Em março de 2020, o governo do Estado decretou a suspensão das aulas presenciais no Rio de Janeiro. Em outubro, foi a vez de o Conselho Nacional de Educação (CNE) se pronunciar, permitindo que escolas do ensino básico e superior funcionem de forma remota até o final de 2021. Além de afetar diretamente o trabalho de professores e outros funcionários das instituições de ensino, o fechamento das escolas também gerou impactos fora das salas de aula, refletindo em atividades que, mesmo não diretamente ligadas à educação, são dependentes do fluxo de alunos e funcionários nas áreas próximas aos colégios e faculdades. Tendo sofrido, segundo o IGBE, uma queda de 9% nos oito primeiro meses de 2020, o setor de serviços foi um dos mais afetados pela suspensão das aulas em diversas cidades do Rio de Janeiro.
Niterói de praça vazia
Localizada na região metropolitana, Niterói abriga sete instituições de Ensino Superior, incluindo os principais campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), instituição federal com o maior número de alunos do país. É no bairro de São Domingos, na região conhecida como Cantareira - que compreende a Praça Leoni Ramos e seus arredores, que esse grande fluxo de estudantes universitários se concentra, movimentando a economia e aquecendo o comércio local.
Praça Leoni Ramos antes e depois da pandemia. (Fotos: Karina Vasconcellos e Keila Marques)
Gabriel Fonseca cursa ciências biológicas na UFF e trabalha há quatro anos no restaurante Vestibular do Chopp, - localizado nas imediações da popularmente conhecida como “Praça da Cantareira”, e afirma que esse é o período mais difícil pelo qual o restaurante já passou. Segundo Gabriel, adaptar-se e reinventar-se foi muito difícil. Os funcionários estavam acostumados a lidar com o público pessoalmente e tiveram que se acostumar ao serviço de delivery. Mesmo existindo antes, a demanda era muito menor, de 5 a 15 pedidos por dia, com entregas feitas pelo próprio funcionário do restaurante. Com as universidades e escolas fechadas, o movimento caiu tanto que alcançar o mesmo rendimento já não é mais possível. “Com certeza não só esse comércio aqui como os outros da região dependem muito dos estudantes, porque a universidade tem vários polos espalhados pela cidade, que movem muito a economia. Então, fomos muito afetados”, afirma o atendente.
O número de fregueses do restaurante caiu cerca de 90%. Antes da pandemia, o estabelecimento chegava a receber uma média de 350 clientes em dias de grande movimentação, e 210 em dias regulares. Com o Covid-19, número de frequentadores caiu para menos de um quarto. Dependendo apenas dos moradores locais, sem os estudantes, o Vestibular do Chopp teve que investir em panfletos para atrair consumidores, anunciando o serviço de delivery que poucos sabiam que existia. Para que não houvesse demissões em decorrência da crise, a estratégia do negócio foi manter os funcionários trabalhando, com 50% do salário e a carga reduzida, além da constante tentativa de recuperar ao menos parte clientela.
São Gonçalo e o fechamento da FFP
Apesar de terem conseguido sobreviver ao isolamento social em São Gonçalo, os estabelecimentos próximos à Faculdade Formadora de Professores (FFP) da Uerj enfrentaram e continuam enfrentando um momento difícil com a paralisação das aulas. O Bar da Frente e a Copiadora Paraíso, que dependem diretamente do consumo dos alunos da universidade, foram entrevistados pelo jornal O Casarão e relataram as constantes dificuldades enfrentadas durante o fechamento da instituição para as aulas presenciais.
Proprietário do Bar da Frente - Bar e Música, Denilson Marvila sente a falta do movimento dos alunos, afirmando que há uma grande expectativa para o retorno das aulas ano após ano. “A gente se prepara para as férias da faculdade, por que o movimento cai 80%, 70%, nesse período. Quando voltaram as aulas a gente estava preparado para seguir todo nosso cronograma e aí uma semana depois houve a paralisação. Foi uma perda absurda, enorme”, conta o dono do estabelecimento que precisou reinventar-se para manter a freguesia.
Os desafios enfrentados pelo bar giraram em torno da adaptação ao novo estilo de serviço delivery e nos mecanismos para evitar perda de funcionários, com a criação de divisões de escalas de trabalho e reduções de salário para não demitir nenhum empregado.
Vista interna do Bar da Frente para a UERJ (Foto: João Marcos de Figueiredo)
Uma situação semelhante foi vivida pela Copiadora Paraíso, que não conseguiu expandir o seu serviço por conta da paralisação, como relata Amanda, uma das proprietárias do comércio: “Eu ia começar a contratar, porque as aulas tinham acabado de voltar, mas aí parou antes de eu concluir a contratação”. A copiadora ainda alcançou clientes para além dos alunos da UERJ, embora seu rendimento tenha reduzido consideravelmente já que o corpo docente e discente da universidade eram seus principais fregueses.
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