Em 16 anos, programa deu suporte a iniciantes e campeões mundiais por meio de diferentes modalidades de investimento
Por Henrique Lima
Os Jogos Paralímpicos de Tóquio registraram a maior delegação do país em um competição fora do território. Dos 236 atletas presentes no Japão, 95,7% , ou 226, recebem investimento direto do Governo Federal, nas diversas categorias da Bolsa Atleta, auxílio fundamental para os esportistas, como conta Andrey Garbe, nadador campeão Parapanamericano e recordista brasileiro nos 100 metros costas:
“A bolsa nos ajuda financeiramente, o que é essencial pra manter os gastos mensais dos atletas. Não é barato custear todas as despesas de um atleta”.
Andrey competiu nas provas dos 100 metros costas s9 e no revezamento 4x100 medley 34 pontos, nos jogos Paralímpicos de 2021. Na primeira modalidade, não conseguiu se classificar para a final, mas, na segunda, terminou a prova em sétimo lugar. Atleta do Vasco da Gama, time conhecido mundialmente pela inclusão, desde a luta contra o racismo no futebol, Andrey afirma que o clube lhe abriu as portas e permitiu sua participação em competições. Além de garantir uma vaga na delegação brasileira no Japão, a intensa preparação buscou trazer mais medalhas para São Januário:
“Vamos mostrar o resultado de mais um ciclo de quatro anos de trabalho do paradesporto do Gigante da Colina”.
Mesmo com todo o apoio do seu clube e o auxílio da Bolsa Atleta, Garbe considera que ser atleta profissional não é nada fácil. “Há muita desigualdade e injustiças rolando em todo o mundo. Principalmente na natação”.
Bolsa Atleta
O investimento Federal direto aos atletas paralímpicos ocorre por meio da Bolsa Atleta, criada em 2005 e hoje controlada pelo Ministério da Cidadania, contemplando diversos esportistas em diferentes categorias, como a Bolsa Pódio, a bolsa de maior investimento. Ao todo são seis categorias, com idade mínima de 14 anos e cada uma tem sua especificidade (Veja modalidades ao final da matéria).
A seleção é feita por meio de editais, e os atletas devem se inscrever e estar dentro das condições adequadas para receber o investimento Federal. Os editais paralímpicos podem ser encontrados no site do Comitê Paralímpico Brasileiro: https://www.cpb.org.br. Marcelo Magalhães, secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania, afirma que os investimentos nos paradesportos estão cada vez maiores e tendo mais atenção.
“A nossa visão é a de sempre ter um olhar proporcional, igualitário e atento aos investimentos feitos no alto rendimento, sejam eles no esporte olímpico ou paralímpico. Inclusive trouxemos para a estrutura da nossa pasta uma secretaria nacional específica para pensar políticas públicas voltadas para o paradesporto como um todo”.
Segundo dados da Secretaria Especial do Esporte, em 2005, ano de criação do projeto, o valor do investimentos foi de R$ 8,5 milhões, beneficiando 975 atletas. Já em 2021, o investimento será de R$ 97,6 milhões, destinado a 7.197 atletas (sem contar a Bolsa Pódio).
A paraciclista Jady Malavazzi, duas vezes medalhista mundial (prata e bronze), competiu na categoria Classe H3 Handbike nos Jogos Paralímpicos de Tóquio e fala sobre a importância da bolsa aos atletas e seu patrocínio, principalmente no paraciclismo, segundo ela, um esporte muito caro no Brasil:
“É um patrocínio fundamental para eu conseguir me dedicar com mais tranquilidade, para conseguir fazer viagens. Acabo conseguindo ter um planejamento melhor, com isso, mais tranquilo e mais seguro, enfim. O paraciclismo é um esporte muito caro, então o patrocínio do Mackenzie vem para complementar a bolsa atleta.”
A atleta considera que o Bolsa Atleta foi um divisor de águas na sua vida e fez com que ela pudesse se dedicar totalmente ao esporte :
“Eu decidi largar tudo e mudar a minha vida, mudar de cidade, realmente me estruturar, a partir do momento que eu comecei a receber a bolsa. Então, hoje, a bolsa é o que eu tenho para me sustentar.”
O programa de bolsa atleta do Governo Federal é um dos maiores do mundo, segundo o site do Governo Federal. Para Jady, representa uma vitória do esporte brasileiro:
“Eu tenho contato com muitos atletas de vários outros países e não existe nenhum programa parecido fora (no exterior). Então, é uma conquista muito grande para gente e cada ano vem se estruturando mais” .
Apesar disto, a atleta, que conquistou a sétima colocação na prova de contrarelógio e 13° lugar na prova de resistência, em Tóquio, considera que é preciso investir mais para tornar a modalidade mais acessível. Um exemplo das dificuldades que o paraciclismo enfrenta para se popularizar são os custos dos equipamentos, principalmente os importados.
“Handbikes de alta performance são todos produtos importados, difíceis de conseguir comprar e quando chegam (no Brasil) vêm num valor muito alto. Então, a gente precisa que o custo desses equipamentos sejam mais populares, para, assim, podermos fazer um trabalho com novos atletas, atletas jovens. Eu acho que aí é um bom começo”.
Modalidades da Bolsa Atleta
Atleta Estudantil: Estar regularmente matriculado em instituição de ensino, pública ou privada, idade máxima de 20 anos - Valor mensal: R$ 370,00
Atleta de Base: Estar vinculado a uma entidade de prática desportiva (clube), idade máxima de 19 anos - Valor mensal: R$ 370,00
Atleta Nacional: Ter filiação à Entidade de Administração de sua modalidade, tanto Estadual (Federação) como Nacional (Confederação) - Valor mensal: R$ 925,00
Atleta Internacional: Ter participado de competição internacional, indicada pela Entidade Nacional, no ano imediatamente anterior àquele em que está pleiteando a bolsa, tendo obtido a classificação de terceiro a primeiro lugar em Campeonatos Mundiais, Campeonatos Pan-americanos e Parapan-americanos ou Campeonatos Sul-americanos - Valor mensal: R$1.850,00
Atleta Olímpico e Paralímpico: Ter integrado na qualidade de atleta a delegação brasileira (como titulares em modalidades individuais ou com seus nomes presentes nas súmulas de modalidades coletivas) na última edição dos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos. - Valor mensal: R$ 3.100,00
Bolsa Pódio: A mais alta bolsa do programa, criada em março de 2011, para os atletas que estão entre os 20 melhores do ranking mundial de sua modalidade ou prova específica - Valor mensal: R$ 5 mil a R$ 15 mil.
Tóquio 2020
Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, o Brasil fez a sua melhor campanha, com recorde de medalhas de ouro, finalizando sua participação na sétima colocação, com 72 medalhas. Ao todo, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes. Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro, o resultado cumpre a meta estabelecida em 2017, de estar no top 10. Além disso, o país igualou o número de medalhas obtidas na Rio 2016 e superou sua melhor marca na conquista de ouros, com uma medalha a mais que o total de 21, conquistadas em Londres 2012 .
O Brasil conquistou resultados inéditos, como o ouro no halterofilismo, com a Mariana D'Andrea, na categoria até 73kg. Além dela, no judô também tivemos ouro inédito, conquistado pela judoca Alana Maldonado, na categoria até 70kg. A modalidade que mais conquistou medalhas de ouro foi a natação, com oito, seu melhor desempenho em jogos. A modalidade levou 23 pódios, recebendo, também, cinco pratas e dez bronzes. O atletismo foi quem conquistou mais medalhas, com 28, sendo oito ouros, nove pratas e 11 bronzes.
Os resultados conquistados nos Jogos Paralímpicos de Tóquio são frutos dos projetos de investimento do Governo Federal, ao longo de mais de 15 anos, que vem ajudando brasileiros que sonham em ser atletas profissionais e disputar competições de grande porte.
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