Por Lara Diana
Entre as várias tendências do TikTok, uma em especial teve um crescimento acelerado nos últimos meses e vêm alcançando os olhos do mercado editorial de todo o mundo: o BookTok. A comunidade surgiu na plataforma entre os amantes de livros, que aproveitaram o espaço para falar de literatura de uma maneira mais informal, e já vem impactando as vendas de livros desde o início do ano. A hashtag #BookTok, onde os criadores de conteúdo postam suas resenhas e recomendações, já acumula mais de 18 bilhões de visualizações no aplicativo.
Izabela Lopes, professora de inglês em Minas Gerais, produz conteúdo
literário na internet há quase 10 anos, trabalhando com blog e YouTube, no site
Brincando de Escritora. Em 2020, baixou o TikTok e decidiu se arriscar no novo
formato, e agora já possui mais de 130 mil seguidores na plataforma: “Ano passado, como muitas pessoas, eu baixei o TikTok
para passar o tempo durante a pandemia, e acabei criando um vídeo que viralizou.
Os números aumentaram muito rápido, aí vi que era uma plataforma
muito legal para continuar o que eu já fazia, tanto no blog quanto
no canal do Youtube.”
Para a booktoker, o sucesso do TikTok está
completamente ligado à rapidez que o aplicativo proporciona: “É claro que eu
ainda tenho visualizações no blog, nas resenhas que eu escrevo. É claro que
meus vídeos no Youtube também ainda têm visualizações, e é um formato completamente
diferente. Meus vídeos no Youtube de vlog de leitura ficam variando entre 30
minutos, 50 minutos. No TikTok, é no máximo 3 minutos, e esses três minutos são
novos. Essa rapidez é o que atrai tanto. O desafio é falar sobre um livro em tão
pouco tempo e convencer alguém a ler aquele livro”.
A estudante de medicina Lara
Bastos, do Rio de Janeiro, concorda com Izabela. Ela acredita que o formato rápido
e o compartilhamento prático do aplicativo são essenciais para conciliar o
conteúdo literário com os estudos: “É um conteúdo que eu
consigo consumir rápido e é de uma coisa que eu gosto”.
Outro aspecto que se destacou na
comunidade booktoker foi o destaque dado às discussões sobre
representatividade nos livros, que passaram a ser muito mais abordadas. Na
última semana do mês de agosto, o livro infanto-juvenil mais vendido na lista
da Veja foi Vermelho, Branco e Sangue Azul, livro que ficou popular no TikTok pelo
seu protagonismo LGBTQIA+. A hashtag do livro, sozinha, possui 60 milhões de
visualizações no aplicativo. Na categoria de ficção da mesma semana, o topo da
lista dos mais vendidos é ocupado por Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, que também
viralizou na plataforma pelo protagonismo LGBTQIA+.
Izabela destacou a importância do BookTok ao trazer essas discussões, além de ter um papel fundamental em divulgar o trabalho de autores nacionais: “Por ser uma plataforma de fácil acesso e muito dinâmica, onde qualquer pessoa pode postar, ela tem sido muito boa pra falar sobre tudo e qualquer coisa na literatura: autores LGBTQIAP+, autores nacionais, e tudo mais. E, querendo ou não, a gente acaba falando com gerações muito mais novas e que são muito mais mente aberta para todos esses tópicos e sobre a importância de valorizar a literatura nacional. Não é só o que vem lá de fora que é bom, nós temos autores fenomenais aqui no Brasil”.
Seja pelo número de vendas ou pelas
visualizações no aplicativo, é possível notar uma forte influência do Tiktok no
mercado editorial, tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Mesmo com a
pandemia, que levou várias livrarias físicas a fecharem suas portas, e com o
baixo incentivo do país ao consumo de literatura, ou qualquer forma de arte, a
nova onda de leitores trazidos pelo Booktok têm trazido alguma esperança no
papel dos livros no dia a dia das pessoas, principalmente entre o público
mais jovem. A presença é tanta que várias livrarias já apostaram em uma seção
inteira dedicada aos destaques do aplicativo, como é o caso da Barnes &
Noble, a maior livraria varejista dos Estados Unidos.
De
sua perspectiva como criadora de conteúdo literário, Izabela diz que “fazendo
unboxing, ou fazendo uma resenha, uma fofoca literária sobre um livro, mais
pessoas vão procurar aquele livro”. Para a estudante Geovanna de Castro, do Rio
Grande do Norte, os formatos criativos dos criadores são um grande incentivo
para a compra de livros: “Vídeos das pessoas
fazendo trends, como, por exemplo, aquele em que a pessoa está contando a
história como se tivesse acontecido com a vida dela, e no final do vídeo diz
que ‘isso é a história de tal livro’, acho que serve como gatilho de
instigar as pessoas a lerem mais”.
A
trend a que ela se refere é a #FofocaLiteraria: Os criadores contam uma história,
de forma dramatizada e em primeira pessoa, deixando o espectador curioso sobre
seu desfecho, apenas para revelar, no fim, que aquela é a história de um livro, que
deve ser lido caso alguém queira saber o seu final. Trends como a Fofoca
Literária, receitas inspiradas nos livros e, muito mais, estão tomando um espaço
cada vez maior, criando uma comunidade fiel e moldando parte das vendas de
livros ao redor do mundo.
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