Sites de busca por genealogia tornaram mais simples encontrar os antepassados. Mas não para todo mundo.
Por Yasmin Ramalho
E se você soubesse que pode encontrar muitas dessas informações online e de forma gratuita? Sim, essas possibilidades existem em sites como o Family Search, em que você pode montar sua própria árvore genealógica e procurar por antepassados com os dados que já possui. Outra opção é o My Heritage, onde você encontra registros históricos e também pode montar sua árvore. O diferencial do site é o fato de oferecer o serviço de teste genético, que realiza uma análise do DNA e faz uma associação a diversas regiões demográficas; é possível até encontrar familiares distantes de acordo com a composição genética compartilhada.
Através destes e muitos outros sites disponíveis online, é possível resgatar documentos e registros necessários para a obtenção da dupla nacionalidade, por exemplo. Para se ter uma ideia, entre 2002 e 2017, 170.187 brasileiros obtiveram o reconhecimento de uma segunda cidadania, sendo em sua maioria a de países europeus.
Quem está prestes a entrar nesta lista é Carolina Dinis, que está esperando a cidadania portuguesa de sua mãe ficar pronta para então solicitar a sua. Carolina contou que felizmente seu bisavô português trouxe toda documentação quando veio para o Brasil, aos 17 anos de idade, e sua família conseguiu guardar estes documentos, o que facilitou bastante o processo.
O interesse na dupla cidadania surgiu por conta das
oportunidades que um cidadão europeu possui, entre elas, poder residir em
qualquer um dos países da União Europeia, ter melhores e mais baratas opções de
estudo no exterior e isenção de visto consular para diversos destinos.
"Quando fui estudar no Canadá, vi que o passaporte europeu tem um peso maior, foi então que eu comecei a cogitar mais a ideia da cidadania. Hoje em dia acaba sendo uma questão ainda mais urgente, por conta do contexto político em que estamos vivendo. Quero a segurança de ter um plano B, uma segunda opção”, afirmou a carioca.
Se nos últimos anos este crescimento veio se intensificando, a pandemia do novo coronavírus fez com que as buscas por serviços de genealogia aumentassem ainda mais. É o que afirma o arquiteto e genealogista Mateus Seixas, que viu um salto no número de clientes que buscavam meios de obter a dupla cidadania como forma de sair do país.
Mas este não é o único perfil dos clientes que Mateus
atende: muitas pessoas estão em busca de mais informações sobre
seus antepassados simplesmente para entender e resgatar as origens das próprias
famílias. É o caso de Caio Rossoni, que afirmou buscar o serviço de genealogia
pois queria conhecer mais sobre seus antepassados distantes e descobrir
curiosidades que pudessem surgir ao longo da investigação.
“Descobri um vínculo da minha família por parte de avó paterna com Heitor Villa-Lobos, a ascendência de pessoas que foram escravizadas e como isso, inclusive, impediu de avançar nas pesquisas da família da minha mãe, pois não há registros… Coisas bem interessantes”, disse o jovem.
A escassez de registros
O que para uns pode ser uma bênção, para outros pode ser o atestado do descaso ao longo dos séculos. A genealogia vem ganhando destaque nos últimos anos com a possibilidade de resgatar origens estrangeiras de brasileiros que buscam a dupla cidadania. Porém, para algumas pessoas essa busca se mostra uma tentativa frustrada de localizar uma história que já não existe mais em forma de documentação e registros físicos, restando resquícios de sua presença apenas nas memórias familiares.
É o caso da ancestralidade negra no Brasil. Descendentes de povos escravizados que aqui chegaram, muitas vezes, clandestinamente, visto a proibição do tráfico de pessoas escravizadas em 1850, através da Lei Eusébio de Queirós, encontram dificuldades em localizar registros de seus antepassados. Um dos motivos da ausência desta documentação está no despacho assinado em 14 de dezembro de 1890 pelo então Ministro da Fazenda Ruy Barbosa, que autorizava a destruição de documentos referentes ao período da escravidão. A tentativa era de apagar qualquer vestígio que remetesse às pessoas escravizadas como uma forma de superar o passado.
Somado a isto, não havia políticas que
buscassem integrar essas pessoas à sociedade e é possível encontrar exemplos
disso através da Lei de Terras, instaurada em 1850, que dificultava a compra de
terras no Brasil por estrangeiros, obrigados, assim, a trabalhar para
os donos destas terras. Também é sintomático o fato de que, após a abolição da escravidão, em 1888,
esse gigantesco número de pessoas também não recebeu apoio ou ressarcimento do governo.
Para Caio Todd, a busca por sua ancestralidade conseguiu lhe dar algumas respostas, mas não todas.
“Das coisas mais legais que descobrimos foi o registro de casamento dos meus trisavós, avós da minha avó materna. Foi muito emocionante ver a assinatura deles no livro de registro de casamento e ter contato com esse registro histórico”, contou.
Mas na busca pela origem de seu sobrenome, a pesquisa parou em um antepassado natural de Barbados, por falta de outros registros. O servidor público afirma que vai continuar buscando informações, principalmente para tentar descobrir mais sobre o lado da família paterna.
Mateus Seixas aponta que existem alguns outros fatores que dificultam as buscas.
“Apesar de termos hoje em dia sites que permitem pesquisar registros civis e religiosos digitalizados gratuitamente, muitos municípios não permitiram a digitalização de seus arquivos e ficamos reféns de cartórios e paróquias que não atendem nossos pedidos de busca ou cobram valores absurdos, dificultando ainda mais o acesso à informação. Além disso, muitas paróquias têm dificuldade de preservar seus arquivos e vários documentos foram perdidos por causa da péssima conservação. E, claro, a pesquisa de antepassados indígenas e negros escravizados, muitos totalmente apagados da história e impossíveis de rastrear. Esses para mim são os maiores obstáculos”, disse o genealogista.
O teste
genético
Uma outra opção para tentar desvendar a história dos antepassados é o teste genético, um exame que realiza o mapeamento do material genético e identifica porcentagens associadas a determinadas regiões do planeta de acordo com as características observadas no DNA. Mas para Mateus, o teste genético é apenas uma ferramenta auxiliar à pesquisa genealógica.
“É importante entender que teste genético não é o mesmo que a pesquisa genealógica. Dependendo do teste, ele pode te mostrar suas porcentagens étnicas, prováveis fluxos de migração dos seus antepassados, correspondências genéticas entre pessoas etc., mas ele não vai dizer quem, quando ou de onde veio o seu antepassado. É preciso analisar todos os resultados para entender as suas origens”, afirmou.
O documentário “Origens”, uma produção do UOL, mostra como
testes de DNA foram responsáveis por dar respostas a quatro artistas
brasileiros sobre suas origens. No filme, Eliane Alves Cruz, MC Carol, Péricles
e Yuri Marçal contam como ao longo de suas vidas sentiram falta de saber de
onde vieram. Com o resultado do teste genético foi possível conhecer o passado
para então ajudar a pensar no futuro.
“eu sei de onde eu venho e daqui pra frente eu posso construir a minha história de uma outra maneira”, diz o cantor Péricles, num dos trechos do filme.
Se muitas pessoas conseguem obter registros e respostas, seja porque a própria família conseguiu preservar esta documentação, seja porque as localizaram em sites especializados para fins de obter uma dupla cidadania e deixar o país em busca de novas oportunidades, é preciso considerar, como isto seria possível nestes casos mais complexos em que não se possui acesso à documentação comprobatória, justamente por falta de iniciativas governamentais em assegurá-la.
Sabe-se que cada país possui sua política de controle de imigração, porém, é curioso que no caso de Portugal, nação que colonizou o Brasil, seja necessário apresentar uma série de documentos que comprovem a relação do brasileiro com ascendentes portugueses. Não seriam todos os brasileiros descendentes diretos ou indiretos dos lusitanos? O questionamento é válido, mas sabe-se que na prática há muita burocracia e impedimentos envolvidos.
Excelente matéria da Yasmin Ramalho. Este assunto é do meu interesse. Parabéns !
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