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O Trote Virtual: o rito mais esperado ganha novos ares em meio à pandemia

Estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) relatam como estão se reinventando para a tradicional recepção dos calouros.

Por Ingrid Cury


 

(Reprodução: Behance)


A pandemia da Covid-19, declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 11 de março de 2020, fez com que os indivíduos tivessem suas rotinas completamente alteradas e suas atividades presenciais suspensas, dentre elas o acesso às universidades. As aulas se tornaram remotas, os trabalhos e atividades são feitos via chamada de vídeo e até a tradicional recepção de calouros e veteranos teve que ser adaptadas para esse novo modelo.

Segundo um monitoramento feito pela UNESCO, o impacto estudantil atingiu cerca de 99,4% da população mundial. No Brasil, diante desse contexto, mais de 98% das escolas adotaram medidas não presenciais de ensino, de acordo com a pesquisa “Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil”, feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

As boas-vindas aos calouros, nacionalmente conhecida como trote, antes de tempos pandêmicos eram feitas tanto de modo remoto quanto presencial. Elas eram iniciadas por grupos de Facebook e WhatsApp, para se programarem e interagirem até o presencial. A prática da pintura, arrecadação de dinheiro para a festa, choppadas e/ou calouradas, prendas e gincanas, eram as práticas mais vistas nessas cerimônias antes da pandemia.

A Universidade Federal Fluminense (UFF) teve seu último trote presencial na semana de 09 a 13 de março de 2020, dos calouros referentes ao primeiro semestre do ano. Roberto Malfacini (23), estudante de Jornalismo e veterano dos cursos de Comunicação Social, disse que o maior desafio, mesmo sem a pandemia, era encontrar os novos estudantes pelas redes sociais e engajar a participação deles nas gincanas, mas que por ter o contato pessoalmente isso era compensado depois. Acredita que, devido ao distanciamento social, os futuros alunos estejam mais animados para participar de maneira remota.

                                    Último trote presencial de Comunicação Social da UFF (Foto: Arquivo Pessoal)


O posicionamento em relação à suspensão das aulas presenciais pela Universidade foi feito em 13 de março de 2020,  inicialmente por uma semana e, no início de abril, por período indefinido. Em meados de setembro do mesmo ano, o ensino remoto foi iniciado e está vigente até o momento atual.

João Victor Araújo (21), estudante de Publicidade e Propaganda na UFF e veterano de Comunicação Social dos calouros que já ingressaram na pandemia, relatou que a organização do trote virtual foi feita pelas mesmas redes sociais que eram utilizadas no presencial, o WhatsApp e Facebook. As decisões de como seriam as gincanas foram tomadas por mensagens, e alguns encontros com os calouros e veteranos, por chamadas de vídeo.


“A gente usou as plataformas de vídeo para fazer algumas dinâmicas com eles, para realmente todos poderem se conhecer. Criamos grupos para conversar e mandar diversos desafios e brincadeiras para eles fazerem e se entrosar."


João disse que os veteranos sabiam que o trote virtual não teria a mesma emoção que o presencial. Ainda assim, fizeram várias dinâmicas diferentes e deixaram claro que estavam disponíveis para qualquer dúvida. Ele acredita que foi muito legal para os calouros, pois deram um feedback positivo das atividades, e relataram que se sentiram acolhidos e muito felizes com a escolha da Universidade. Ainda complementa que, quando as atividade voltarem ao presencial, alguma festa acontecerá para todos se conhecerem pessoalmente.


Grupo do Facebook e WhatsApp do Trote de 2021.1 de Comunicação Social (Fonte: Arquivo Pessoal)


Com o adiamento do Enem 2020 e, consequentemente, do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), os resultados saíram apenas em meados de abril. Isso fez com que os  futuros veteranos tivessem mais tempo para pensar e organizar suas ideias e atividades.

           Maria Luísa Fernandes (20) e Ana Beatriz Araújo (22), calouras de Publicidade e Propaganda de 2021.1, contaram que pelo momento difícil que o mundo está passando, pensaram que não haveria um acolhimento tão intenso como tem sido. Amaram todo o processo, organização, comprometimento e a interação dos veteranos com os recém universitários foi acolhedora. Além disso, o estereótipo do trote, de ridicularizar e diminuir os ingressantes, não foi visto e, sim, o contrário.

    A despeito do trote virtual de Comunicação Social, calouros de outros cursos não tiveram o mesmo acolhimento. O novo estudante de Psicologia da UFF, Guilherme Arantes (23), relatou que ele, em particular, não teve nenhuma recepção, procurou nas redes sociais informações sobre, mas não encontrou e ninguém entrou em contato com ele e só descobriu que havia um grupo de integração pouco antes de iniciar as aulas. 


    “Uma galera entrou nesse barco comigo, não fazia ideia, foi descobrir quando já estava tendo aula. Parece que o pessoal da Psicologia teve uma recepção, eles chamaram alguns calouros e os outros não, jogaram Among Us e Gartic juntos. Acho que seria interessante um trote mais dinâmico. O pessoal do meu curso reclamou bastante depois, por não ter tido um acolhimento legal”.


    A Universidade Federal Fluminense não tem uma data para o retorno das atividades presenciais, mas com a aderência dos brasileiros à vacinação, a ansiedade para esse possível momento ainda esse ano, ou no início do ano de 2022, é enorme. As alunas de Jornalismo, Júlia Barbosa (19) e Samara Barboza (22) fizeram parte do último trote presencial na Universidade e contaram que, na sexta-feira da semana do trote, todos os colegas saíram da calourada dizendo “até segunda”, e logo depois receberam a notícia do adiamento das aulas. Ambas dizem que todos estão esperando muito para essa segunda chegar e poderem se reunir novamente.





                                

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